22 de janeiro de 2015
Editorial
Freeways, calçadas e ciclovias

Propostas de mobilidade urbana podem matar ou renovar uma cidade. A escolha é nossa

Um interessante estudo da Universidade de Oklahoma mostra, com imagens, as transformações radicais sofridas por algumas cidades dos Estados Unidos após a abertura das famosas freeways, estradas com várias pistas que rasgaram o tecido urbano dessas localidades. Os projetos expulsaram os antigos habitantes e praticamente mataram a vida de rua nesses locais. Foi assim em Detroit, Cincinnati e Minneapolis, entre várias outras cidades americanas.

O modelo foi replicado ad nauseam em várias partes do mundo, incluindo cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre etc. Para abrir espaço ao automóvel, jardins e calçadas desapareceram, depois sumiram as pessoas e logo depois o comércio de rua começou a morrer. Surgiram os shoppings, como uma espécie de "cidade enlatada", com enormes estacionamentos para se chegar sempre de carro.

Passados 60 anos, esse modelo de urbanização (carro-condomínio-shopping) dá sinais de esgotamento em escala mundial. Exemplo disso é a iniciativa dos moradores de Barueri, na Grande São Paulo, que desenvolveram, eles próprios, um projeto para a renovação das calçadas no entorno de escolas, bibliotecas e postos de saúde. Como em todo o Brasil, os cidadãos querem suas calçadas de volta e pedem a ação das autoridades.

Calçadas também são o tema da mensagem enviada pela Secretaria de Urbanização de Salvador-BA, na qual tece comentários sobre matéria publicada no início do ano que trata da situação dos passeios públicos na capital baiana. As mudanças são visíveis na cidade, embora ainda pontuais. No entanto, sinalizam uma vontade política de recuperar o espaço urbano para o pedestre, seja ele uma criança, um idoso ou cadeirante.

A propósito, Mara Gabrilli, do blog Direito de ir e Vir destaca a acessibilidade na cidade de Miami (EUA), onde até as praias são dotadas de recursos para o acesso de pessoas com mobilidade reduzida. Lá, os cadeirantes podem até mesmo "surfar", conta a blogueira.

Ainda dos Estados Unidos, chega o relatório publicado pelo portal “The City Fix Brasil” sobre as mudanças (para melhor) que a rede de ciclovias e faixas exclusivas de ônibus proporcionaram à mobilidade em Nova York. Lá ainda há resistências contra as mudanças realizadas pela prefeitura local, mas o texto e infográficos do relatório revelam claramente os ganhos em fluidez, segurança e na qualidade de vida depois da execução dos projetos.

Até na Alemanha, que implantou a primeira ciclovia em 1935, houve muita resistência contra a criação das faixas exclusivas, mas hoje sua utilidade é inegável, já que até 30% dos deslocamentos diários em cidades como Berlim são realizados de bicicleta.

Para concluir, uma ótima notícia: em Curitiba, a prefeitura acaba de sancionar uma lei que reserva 5% das vias públicas para a construção de ciclovias e exige também a instalação de bicicletários e paraciclos em terminais de transporte, escolas e shoppings. A novidade consolida o projeto "Ruas calmas", iniciado em 2014, que criouciclofaixas na av. Sete de Setembro, principal corredor de tráfego da capital paranaense.

Apesar dos tombos, vamos caminhando e pedalando.

Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil

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