Pé de Igualdade

04
December
Publicado por admin no dia 04 de December de 2014

 

Faço Pilates duas vezes por semana numa academia localizada em uma das movimentadas esquinas paulistanas. Como toda academia, oferece programas de condicionamento físico baseado naqueles aparelhos de musculação e os outros que simulam os nossos movimentos cotidianos: bicicletas ergométricas, esteiras, estepes, e por aí vai. A grande maioria dos frequentadores são jovens cheios de energia e pressa, que optam por utilizar um minúsculo elevador para chegar no espaço da academia, situado a um lance de escada, certamente para poupar energia e ganhar tempo para o treino.

 

Piada pronta: Escada rolante para acessar academia: certamente  quem a utiliza não tem  problemas de mobilidade

Piada pronta: Escada rolante para acessar academia: certamente
quem a utiliza não tem
problemas de mobilidade

 

Enquanto espero o início da minha atividade ouço sempre queixas sobre trânsito e sobre a pouca oferta de vagas para estacionar na vizinhança, obrigando os queixosos a se submeterem a numerosas e estressantes voltas no congestionamento das ruas para depois caminharem uma ou mais quadras quando têm sorte de estacionarem. Mas a correria da chegada logo fica esquecida na concentração do aquecimento: pelo menos 30 minutos na esteira, no estepe, no orbitrek, na bicicleta ergométrica, e nas outras parafernálias.

 

Por que não a pé?

 

Uma das vezes, após ouvir o desabafo de uma das frequentadoras sobre a injustiça de ter levado uma multa só porque excedeu cinco minutinhos o tempo de parada na Zona Azul, perguntei onde ela morava. Era a uma distância de mais ou menos oito quadras da academia. Então quis saber por que ela não vinha a pé. Se programando para sair uma meia hora antes do início da aula, com certeza conseguiria chegar pontual e calmamente, sem perigo de levar multa, e o que é melhor, já aquecida e exercitada. Ela me olhou como se eu propusesse a coisa mais absurda do mundo e logo se justificou: é muito longe, a ladeira é muito íngreme, é perigoso andar na rua por conta dos assaltos, as calçadas tem muitos buracos, a rua é escura, e por aí vai. Minha colega de academia prefere se aquecer no ambiente abafado e artificial da academia a fazê-lo usufruindo o espaço público da via.

 

correr-esteira

 

Certamente os motivos que ela alegou: as péssimas condições de conservação das calçadas, os pisos desconfortáveis, a insegurança das ruas mal iluminadas, a sinalização precária para quem caminha, são certamente desencorajadores para consolidar o saudável hábito cotidiano da Mobilidade a Pé na cidade e acabam por criar, ao meu ver, o cenário de realismo absurdo que predomina nas academias: esteiras, estepes e outras parafernálias que imitam movimentos cotidianos, lotadas de pessoas que deveriam ocupar espaços públicos urbanos. Será que um dia esta situação tenderá a se normalizar? Quando iremos nos apropriar dos espaços públicos de caminhada? Enquanto isso não ocorre, os proprietários de academias agradecem.

 

Caminhada na esteira ou na calçada?

Caminhada na esteira ou na calçada?



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