Há eventos que se destacam na vida das pessoas e das cidades porque provocam mudanças no cotidiano, na forma de pensar e de agir, deixando sua marca ao longo do tempo. Na semana passada, entre 25 a 28 de novembro, o Seminário Internacional Cidades a Pé, realizado no Centro Cultural Tomie Othake por iniciativa da Comissão Técnica de Mobilidade a Pé e Acessibilidade da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), com o patrocínio do Banco Mundial e do GEF (Global Environment Facility), foi um desses momentos.
Foi um seminário dedicado a apresentar e discutir a mobilidade a pé nas cidades brasileiras e no mundo; o primeiro totalmente direcionado a este assunto a ser realizado no Brasil. Seu próprio formato já era singular ao intercalar oficinas dirigidas ao corpo técnico do poder público e privado com mesas de debates formadas por especialistas internacionais e apresentações de iniciativas da sociedade civil, estas últimas denominadas simpaticamente de “Ponta Pés”.
Tanto os especialistas que participaram das oficinas e debates assim como as entidades da sociedade civil e organizações especializadas, dentre elas o Portal Mobilize (Marcos Sousa, editor do portal mediou uma das mesas), foram convidados por ter em comum seu trabalho focado no entendimento da Mobilidade a Pé como prioritária e essencial para a vitalidade dos centros urbanos e da qualidade de vida das pessoas que neles residem. Também foi consenso a forma negligente como é tratada a caminhada na maioria das cidades brasileiras e a urgente necessidade de reversão do quadro de descaso em que se encontram os espaços públicos a ela destinados.
Outro ponto muito destacado foi necessidade de mobilização da sociedade para pressionar e exigir do poder público melhores condições de infraestrutura de caminhada cotidiana, através de iniciativas como associações civis de ativismo à semelhança dos movimentos cicloativistas que já estão conseguindo suas redes cicloviárias em muitas cidades brasileiras. E por falar em cicloativistas, uma figura emblemática que atua na cidade do México, o Peatónito (um cicloativista que por lá ajuda os pedestres a atravessar as ruas e clama pelos seus direitos), participou de uma das mesas e inspirou outro jovem daqui a se tornar um super herói paulistano para proteger os pedestres: o Super Ando. O encontro dos dois foi um dos melhores momentos do seminário.
O evento foi encerrado num sábado de sol com a apropriação da Praça Ouvidor Pacheco e Silva, na Área Central da cidade, com várias atividades cidadãs, lúdicas e musicais, abertas ao público e dirigidas a todas as idades, dentro do espírito que predominou no “Cidades a Pé”. O material produzido nesta semana e replicado em todos os canais de mídia e redes sociais certamente está gravado no imaginário e na lembrança das pessoas que dele participaram diretamente ou que foram atingidas pelas notícias e posts na internet. Mas o mais valioso disso são os ecos que continuarão repercutindo pela valorização da Mobilidade a Pé.
Realmente a cidade não é mais a mesma.