Quando era pequena sempre ouvia minha mãe dizer que “a pressa era inimiga da perfeição” e que “o apressado come cru”. A versão de meu pai, filho de napolitano, era mais dramática: “piano, piano se va allontana, forte, forte, se va alla morte”. Entretanto o ritmo intenso da vida paulistana me fez esquecer, estes ditos, até que o início da minha vida profissional na CET, na área de segurança de trânsito, me fez lembrá-los novamente.
Uma das primeiras coisas que lá aprendi foi aplicar na prática o ditado do meu pai: reduzir a pressa dos motoristas, a velocidade dos carros, para diminuir o número de mortes no trânsito. Era o que se fazia, por meio de recursos de sinalização e redesenho da via, para segurar e dificultar a prática da velocidade alta.
Quando passei a me dedicar exclusivamente a estudar circulação de pedestres e pontos de atropelamentos, esta prática ficou ainda mais intensa. A grande novidade era aplicar a prática do “guarda deitado”, ou seja, da implantação de lombadas, surgidas na época como as melhores alternativas para redução da velocidade.
Lembrei muito disso na primeira audiência pública da Câmara Municipal de São Paulo para discutir Políticas Públicas de Velocidade, realizada no dia 26 de outubro último para promover ampla reflexão e debate sobre o que significaria a retomada dos antigos níveis de velocidade das vias paulistanas, em especial das Marginais Tietê e Pinheiros. Só lembrando, a retomada dos antigos níveis de velocidade era uma das promessas de campanha do prefeito recém-eleito na minha cidade, a capital paulista.
Com presença concorrida, por mais de quatro horas se discutiu o assunto, iniciado com exposição técnica de especialistas, que apontaram os efeitos diretos da redução na preservação de vidas e os nocivos do retorno das altas velocidades. A presença era majoritária de setores da Mobilidade Ativa (pedestres e ciclistas) interessados na permanência da redução porque contavam com o ambiente seguro para continuar a praticar suas formas de mobilidade.
Mas havia também pessoas que pleiteavam a volta dos antigos valores (motoristas e motociclistas) porque se sentiam prejudicados pela desaceleração, já que os benefícios não se mostravam suficientes para sensibilizá-los.
Entretanto ficava cada vez mais óbvio que a maioria das pessoas ali presentes queria a permanência de padrões civilizados de velocidade. Para elas (e para mim) continua valendo o que ouvia quando era pequena e que me inspirou inventar outro ditado: “Piano, piano, a cidade fica muito melhor!!!!”