O programa municipal de implantação de 400 km de ciclovias paulistanas – que na verdade são ciclofaixas, de acordo com o Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro – continuam causando verdadeiro alvoroço na cidade, apesar de contarem com o apoio e aprovação de 80% da população.
Os que são contra utilizam-se, para apontar defeitos ao processo, das mais variadas justificativas, algumas delas tropeçando nas péssimas calçadas da cidade. Mas de alguma forma estas críticas contribuem para descobrir o manto da invisibilidade que mídia e opinião pública atiram sobre estas vias e indiretamente situam-nas no foco da discussão e do debate. Como assim? Me explico melhor:
Na Folha de S. Paulo de quinta-feira passada (25) uma reportagem chamava a atenção para a indiscutível dificuldade da operação de embarque e desembarque de deficientes físicos em vários locais da cidade, por conta das novas ciclovias. Mas a pergunta que não quer calar é: quantas ruas sem elas estão aptas a acomodar, com o mínimo de condições decentes e seguras, o embarque/desembarque e circulação de qualquer tipo de usuário?
Ao mesmo tempo me deparo com outras imagens extremamente significativas: a primeira, de um cadeirante que encontra somente na regularidade de superfície da pista destinada aos veículos condições de circular com alguma autonomia, apesar da total situação de perigo e vulnerabilidade; e a segunda, de outro cadeirante que encontra no espaço segregado e sinalizado das ciclovias uma alternativa viável e segura para fugir ao pesadelo das calçadas.
Como já apontei no meu post anterior, as ciclovias fazem parte de um modelo de mobilidade de primeiro mundo e vieram para ficar, e o que é principal: colaboram para trazer foco, apontado diretamente à questão da infraestrutura da Mobilidade a Pé, já que seus agentes, os pedestres e deficientes físicos, por falta de condições mínimas de utilização dos seus próprios espaços públicos, e enquanto as melhorias não vem, estão “invadindo a praia“ dos ciclistas…