Nomeada sempre pelo seu ator, o PEDESTRE, e protagonizada sempre como diretriz de abordagem somente em campanhas de segurança de trânsito, a Mobilidade a Pé finalmente começa a se libertar de seu repetitivo e desolado destino de ser lembrada somente nas campanhas de segurança de trânsito. O aspecto positivo deste novo enfoque é a constatação de, apesar de carregadas de boas intenções na tentativa de se reduzir as mortes de pedestres em atropelamentos, a circunstancialidade e o pontualismo que caracterizam este tipo de campanha nem sempre tem se mostrado eficaz, fazendo com que este tipo de morte no trânsito continue a ter majoritária presença e insista em se repetir nas estatísticas de acidentes de trânsito paulistanas.
Finalmente a abordagem das diretrizes que regerão a Mobilidade a Pé no caso do município de São Paulo no PlanMob tem grande chance de permitir que se realize um trabalho preventivo que qualifique a rede urbana que acomoda a caminhada cotidiana através do estabelecimento sistemático de coletas de dados sobre os fluxos a pé: sua intensidade e localização. Apesar de ainda não constar uma definição da Rede da Mobilidade a Pé, entendida basicamente como a rede formada pelas calçadas articuladas pelas travessias, apresenta outros aspectos que ajudam a garantir a quem anda a prioridade determinada por outras leis regem o trânsito e a mobilidade.
Estas leis representadas tanto pelo Código de Trânsito Brasileiro, como pela Política Nacional da Mobilidade Urbana através da Lei Federal da Mobilidade Urbana destacam o pedestre com tratamento de prioridade máxima. Entretanto a realidade paulistana aponta sua difícil aplicabilidade tanto nas ações cotidianas que administram a circulação nas cidades brasileiras como nas formas de organização e operação dos sistemas de transporte público coletivo. Enquanto as primeiras continuam, sistematicamente ignorando a mobilidade a pé como prioridade no uso e divisão do espaço e do tempo do sistema viário com soluções de engenharia de tráfego que priorizam o trânsito motorizado, os sistemas de transporte continuam sem enxergar o pedestre como potencial passageiro, não solucionando adequadamente o acesso seguro, eficiente e confortável aos terminais, estações e paradas que compõem o sistema.
Finalmente resta a famosa dicotomia sofrida pela calçada, o principal espaço público de circulação exclusiva a pé que em São Paulo, assim como na maioria das cidades brasileiras, tem dois donos, o proprietário na ação de construir e manter e a prefeitura na fiscalização, e acaba por não ter dono nenhum. Esta situação de terra sem dono se evidencia numa rede descontínua, mal conservada e invadida por irregularidades,que é palmilhada diariamente por milhões de paulistanos que consideram tudo perfeitamente normal e não reivindicam seus direitos.