Sou totalmente a favor das mudanças pelas quais a cidade de São Paulo vem passando nestes últimos meses.
A começar pela priorização dada ao transporte coletivo através das polêmicas faixas exclusivas de ônibus. Elas podem até não estar nos padrões considerados ideais pelos entendidos no assunto. Mas, como usuária, garanto que a vida de quem precisa do transporte público coletivo melhorou, e muito. Enquanto se espera pela expansão dos sistemas de transporte de alta capacidade como trem, metrô, monotrilho, que estão em andamento, vamos de busão pela faixa exclusiva.
A segunda mudança dá uma bela mexida dos hábitos de mobilidade com a instalação, a toque de caixa, de uma considerável rede cicloviária composta por ciclovias ciclofaixas que ocupam espaço na via onde anteriormente automóveis circulavam quando o trânsito deixava, ou então permaneciam estacionados. Tudo isso para proporcionar mais uma opção de mobilidade, única ou integrada às redes de transporte coletivo.
Aí vale a pena dar um alô: Metrô, cadê os bicicletários? CPTM, EMTU, SPTrans, vamos fazer mais bicicletários nos terminais e estações, além de ampliar os existentes, pois muitos já lotam nas primeiras horas da manhã?
Agora, o que continua esquecidinho num canto qualquer, ou avaliam não haver o que mudar, são os espaços da cidade por onde as pessoas caminham. A começar pelas calçadas: abandonadas, elas são construídas e mantidas, por lei (Lei Municipal 10.508/88 e 15.442/12), do jeito que seus responsáveis legais, os proprietários dos imóveis lindeiros, bem entendem.
Pior, entendem que a área das calçadas lhes pertence e dela podem se utilizar como bem quiserem, até mesmo para solucionar e acomodar problemas de acesso a seus lotes que deveriam, por lei, ficar no interior dos mesmos. O pior é que esta lei os leva a deduzirem que o espaço da via na frente de suas propriedades lhes pertence, e que nele devem passar ou permanecerem somente pessoas eles autorizadas!
Aí dá no que dá: calçada com degraus e interrupções que solucionam e acomodam o acesso veicular e mesmo a pé aos lotes, mas dificultam e até inviabilizam a caminhada; colocação de jardineiras, cancelas, abrigos, bancos e uma infinidade de outros “cacarecos” no espaço reservado à caminhada. Isso para não falar do tipo de piso, escolhido mais para “ornar” com a casa do que oferecer conforto e segurança ao pedestre, quando não se usa, como diz a Letícia Sabino do Sampapé, sobras do piso do banheiro ou da cozinha, que além de serem pouco resistentes, são escorregadios…E o que não dizer das bancas de jornais e outros tipos de mobiliário urbano que parecem sempre estar onde mais atrapalham os fluxos a pé?
E para atravessar as nossas ruas e avenidas então?! Tem muito cruzamento sem sinalização e, quando ela existe, exige paciência infinita para conseguir esperar o momento destinado à travessia nos locais onde há semáforo – e olhe que não é a maioria; e agilidade atlética suficiente para conseguir chegar ao outro lado da rua no curtíssimo espaço de tempo dedicado à travessia, quando o bonequinho fica verde, afinal a sinalização fala que é para atravessar só no verde…
Então, o jeito é a gente se virar como pode e quando necessário correr o risco de caminhar na pista dos veículos, que sempre é regular e espaçosa. Agora tem esta novidade de ciclovias e ciclofaixas novinhas , bem pavimentadas e caprichadas boas para caminhar também… E depois dizem que “pedestre não tem jeito, todos são indisciplinados e mal educados”.
E aí, Prefeitura de São Paulo, que tal dar mais uma “turbinada” nesta sensacional revolução na mobilidade paulistana e começar a qualificar calçadas, travessias e demais componentes da infraestrutura da mobilidade a pé, tratando-as realmente como rede de mobilidade? Já pensou quantas viagens de até 2 km, que dá uns 20 minutos de caminhada, poderão ser realizadas a pé? Os sistemas de transporte agradecem, mas pode ser que os donos de academias de ginástica não…