Hoje, 7 de outubro de 2015, é o Dia Internacional do Caminhar à Escola / Caminho Escolar / Rotas Seguras. Nos EUA, na Grã Bretanha. O conhecido pesquisador em mobilidade urbana Todd Litman (Victoria Transport Policy Institute, Canadá)defende a seguinte ideia: no primeiro dia da nova gestão de um prefeito, este deve caminhar até a escola com uma criança para saber como é a cidade que vai gestionar nos próximos anos. Porque quando uma cidade não dá certo para uma criança, não dá certo para ninguém.
Não precisa ser construída uma cidade nova, para chegar a ser “a cidade ideal para uma criança”. Já sabemos qual é a ideal: a cidade onde todos podemos caminhar, sentar, ver, participar, nos relacionar. Essa que você também quer.
E quando organizamos a toda a comunidade do bairro, da escola, às famílias, para que nossos filhos possam caminhar até a escola, ou “simplesmente” caminhar a cidade, estamos trabalhando várias áreas transversais.
Desenvolver novas experiências relacionadas com o uso e manutenção dos espaços públicos, tanto dentro das salas de aula como no entorno urbano, pode garantir, em parte, o direito das crianças à cidade. A consciência cívica, ou sua ausência, está estritamente ligada a esta experiência temporã do coletivo.
Os projetos de caminho escolar são iniciativas que são desenvolvidas em países de todo o mundo, como EUA, Canadá, Austrália e países da Europa, porém ainda não foram plenamente implantados no Brasil. Eles são dirigidos para que as crianças possam se mover com segurança e autonomia pelas ruas e recuperem seu uso, desfrutando do espaço público através da mobilidade urbana ativa (a pé ou de bicicleta).
O caminho escolar tem uma vertente educativa, mas é a sociedade e a cidade no seu conjunto (áreas de gestão local, projeto, habitabilidade, segurança, mobilidade, médio ambiente, saúde e esporte…) quem deve criar as condições para que os cidadãos de todas as idades possam viver num meio inclusivo. Todos somos concidadãos das crianças da cidade e devemo-nos envolver na sua educação e segurança. A Lei Federal de Mobilidade Urbana nº 12.587 reforça no seu Art.182 a legitimidade do projeto no Brasil: “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.
O clima social de um bairro não é alheio às condições do trânsito rodado: Donald Appleyard mostrou, em estudo realizado nas ruas de San Francisco , que há uma relação inversamente proporcional entre a intensidade de tráfico nas ruas e a intensidade nas relações vizinhais. O uso ativo do espaço público aumenta a interação social, segurança e cultura de paz. (Na foto pequeno projeto para a União de Moradores de Paraisópolis: “espaço de descanso” ocupa uma vaga de carro (2012, Irene Quintáns – SEHAB)
Entre os anos 2011-13 desenvolvi, dentro do projeto de Urbanização da Secretaria Municipal de Habitação em Paraisópolis (segunda maior favela de São Paulo, um piloto de Caminho Escolar).
No Dia Mundial sem Carro, 22 de setembro, voltamos a Paraisópolis. O dia 22 é a celebração para “estimularem às pessoas a abandonar a casca de suas supostas zonas de conforto e buscarem novas possibilidades de viver seus cotidianos que podem representar vida urbana com qualidade, livre de estresse e de congestionamentos de tráfego” (palavras da colega blogueira Meli Malatesta ).
A Secretaria Municipal de Transportes, CET e SP Trans promoveram a Semana da Mobilidade 2015, evento anual entre 18 e 25 de setembro, pretende mostrar a mudança de postura de toda a sociedade paulistana no esforço para a redução de acidentes e por uma mobilidade urbana sustentável, segura e acessível.
Em parceria com o GT de Mobilidade do Fórum Multientidades de Paraisópolis, e dentro da programação da Semana da Mobilidade, foi realizada uma ação na comunidade. Nas ruas, no espaço público.
Atualmente está sendo desenvolvida uma pesquisa da mobilidade urbana de Paraisópolis, financiada pelo Banco Mundial e em parceria com POLI-USP. A comunidade apresenta características de “mixed development”, tem uma grande parcela de pessoas que trabalha e desenvolve atividades localmente e uma “pegada de carbono” em relação a transportes pequena. No entanto, os primeiros dados apontam que há ausência/inadequação de calçadas em relação às necessidades dos pedestres e os serviços de ônibus estão subdimensionados. Infelizmente, o visível aumento da motorização individual poderá intensificar as dificuldades que a comunidade enfrenta.
O crescimento do comércio local e motorização (carros e motocicletas) da comunidade contribuem ao congestionamento, o qual reduz as velocidades de viagem para sistemas de transporte que servem à comunidade e ameaça a resposta rápida dos serviços de emergência; entre outros problemas, incrementa a insegurança e dificuldades para os meios de transporte não motorizados: pedestres, bicicletas. As dinâmicas comerciais e sociais de Paraisópolis são um diferencial muito positivo porém não existe um cuidado com as pessoas que caminham pelas ruas, especialmente os grupos mais frágeis, como as crianças.
O objetivo da ação é chamar a atenção, conscientizar a comunidade dos perigos que supõe para os pedestres a falta de calçadas e a velocidade dos carros e motocicletas, assim como a necessidade da colaboração de todos os habitantes de Paraisópolis para cuidar das pessoas que lá habitam. A proposta foi grafitar mensagens no chão com o objetivo de conscientizar aos diferentes usuários da via pública da necessidade de priorizar a segurança do pedestre.
Nos locais com maior número de acidentes, como a avenida Hebe Camargo e os cruzamentos das ruas Melchior Giola e Herbet Spencer deixamos a seguinte mensagem:
Seguem algumas fotos (autoria Adriana Barros)
Cuidemos de todos os habitantes da cidade.
Espaço de liberdade, de respeito. Quais cidades queremos?
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REFERÊNCIAS
Foto 1_Inauguração Ciclovia Av. Paulista, São Paulo. Oficina Red OCARA. Foto: Irene Quintáns
Bibliografia 1_TONUCCI, Francesco. Cuando los niños dicen basta! Ed. Losada. Buenos Aires (2010)
Bibliografia 2_ APPLEYARD, Donald (1981): Livable Streets. University of California.
Foto 2_Pequeno projeto na União de Moradores de Paraisópolis: “Espaço de descanso” ocupa uma vaga de carro (2012, Irene Quintáns – SEHAB)
Foto 3_Cartaz Semana da Mobilidade 2015 em Paraisópolis
Foto montagem 4_Imagens Caminho escolar de Paraisópolis. Fotos: Irene Quintáns
Imagem 5_Stencil ação Dia sem Carro Paraisópolis_GT Mobilidade Fórum Multientidades
Fotos 5,6 e 7: Ação Dia sem Carro Paraisópolis_GT Mobilidade Fórum Multientidades. Foto: Adriana Barros
Foto 8: Ação Dia sem Carro Paraisópolis_GT Mobilidade Fórum Multientidades. Foto:Irene Quintáns