2º Congresso Internacional de Pedestres: aprendizados e re-apropiação das ruas
Nos dias 27 ao 31 de maio aconteceu em Cholula (Puebla, México) o segundo Congresso Internacional de Pedestres. Os organizadores foram os coletivos Cholula en Bici , A Pata e La Liga Peatonal, entidade que abraça os coletivos e iniciativas em favor do pedestre do país.
Pedimos licença ao eixo temático do Blog, Crianças e Cidade, para contar um pouco sobre como podemos melhorar nossas cidades. Às vezes as pessoas me perguntam qual é a cidade ideal para as crianças. Essa aqui que foi defendida no México.
Nos dias 27 e 28 foram organizados os workshops: no primeiro dia para os coletivos de ciclistas e pedestres, no segundo dia para os corpos técnicos das prefeituras e sociedade civil organizada: Carta de direitos do pedestre, faixas de pedestres, campanhas de “zero acidentes”, organização comunitária, ruas completas, etc.
Já nos dias 29 e 30 os painéis temáticos apresentaram uma série de palestras, com os eixos gerais: Ruas Completas, Comunicação e Segurança Viária, Intermodalidade, Perspectivas locais e perspectiva latino-americana. A cidade convidada foi Nova Iorque e outros nomes importantes compartilharam experiências: equipe Jan Gehl, ITDP, Secretarias de governo e outras entidades que trabalham para uma mobilidade e cidade melhor.
No painel das perspectivas latino-americanas Irene Quintáns apresentou o Case Brasileiro, no qual, entre as novidades legislativas, a Lei Federal de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/12) foi nosso maior diferencial com os países vizinhos. Infelizmente no número de mortos em acidentes de trânsito São Paulo também é, com 1 pedestre morto cada 16 horas, um motorista ou passageiro cada 42 horas, motociclista cada 20 horas e ciclista cada 8 dias (dados CET 2014). Com mais de 50.000 mortes anuais no Brasil atingimos cifras maiores que países em guerra. A organização civil de entidades de pedestres, como a Associação Brasileira de Pedestres em São Paulo ou Comissão Técnica de Mobilidade a pé e acessibilidade da ANTP, interagindo ativamente com os instrumentos de planejamento da mobilidade urbana da cidade, foi aplaudida pelos assistentes. Finalmente foi apresentada uma amostra de experiências brasileiras nos espaços urbanos: o site Mobilize e seus blogs, Pé de igualdade, Corrida Amiga, SampaPé!, Cidade Ativa, Desenhe sua Faixa, Cidades para pessoas, Projetos de cidade e infância. Os organizadores do Congresso ficaram muito interessados nos nossos avanços em instrumentos legais de mobilidade urbana e a participação da sociedade civil na cidade.
As apresentações de Nova Iorque (Caroline Samponaro e Jon Orcutt) sobre as campanhas Vision Zero, adotadas pelo prefeito Bill de Blasio como sua maior prioridade para o transporte, foram das mais impactantes e com muitos conceitos para refletir. A lei “Wright of Way” (Direito de Passo) é uma das mais importantes conquistas, pois garante a prioridade do pedestre nos cruzamentos e contempla punição para os atropelamentos. A Organização Families for Safe Street (Famílias para ruas seguras) conseguiu aprovar uma lei que reduziu o limite de velocidade a 40 km/h em toda a cidade. Segundo o plano municipal de Nova York, os índices de mortalidade em Estados americanos com programas como o Vision Zero caíram em um ritmo 25% maior que o índice nacional.
Gostei muito das apresentações, mas curti ainda mais as duas sessões de PechaKucha onde os coletivos urbanos mostraram suas ações (mexicano adora urbanismo táctico, na foto ação de Ciudad a Pie).
Segue a lista para todos vocês descobrirem, se ainda não conhecem, estas propostas interessantes: Ana Paz de La Banqueta se Respeta (Monterrey); Pablo Cotera de Camina Monterrey (Monterrey); Yazmin Viramontes da Estrategia Camina ITDP (Cidade de México); Tuline Gulgonen, investigadora UNAM (Cidade de México); Gabriel Medina do Metrobus Toluca YA (Toluca); Peatónito (Cidade de México); Fabián García da Ciudad a Pie (Coatepec-Xalapa); Joseliny Díaz do Colectivo Urbania (Tuxtla Gutiérrez); Oscar López de Mejor Ciudad (Orizaba); Adrián Chavarria da Fundación Tláloc (Toluca); Ari Valerdi de A Pata (Puebla); Angélica Lungas de En los zapatos del Peatón (Medellín); Roberto Remes, o Rey Peatón (Cidade de México).
Primeira novidade
Primeira novidade que traz o congresso de pedestres é que foi organizado por ciclistas. Os que lutam pela bicicleta e os que lutam pelo pedestre. Giovanni Zayas, coordenador do Congresso, na sua fala final, diz: “Não existe agenda da bicicleta, não existe agenda do pedestre. Existe agenda da Cidade mais humanizada e segura”. Você também é pedestre foi uma das frases usadas na via elevada fechada para rua de lazer: mensagem para os motoristas, motociclistas, ciclistas, ônibus e todos os que também somos pedestres (em próximo post mostrarei as atividades interativas propostas para o último dia do congresso).
O super-herói internacionalmente conhecido, nosso querido Peatónito, o maior defensor do pedestre, resultou ser um superciclista, que fez a rota da Cidade do México até a cidade do congresso de bicicleta (135km) sob o lema “nem um mexicano mais morto nas nossas vias por incidentes de trânsito”.
Segunda novidade
Segunda novidade, um evento com a bandeira da diminuição dos acidentes e mortes na rua. A rota do Peatónito e amigos. Mas também não é por acaso que no material de divulgação do evento respondem a pergunta “Porque um congresso de pedestres? Atualmente as cifras no México são preocupantes. No último ano foram registradas 24.000 mortes por incidentes viários, dos quais 66% eram pedestres. É por isso que o trabalho ativista das organizações pertencentes à Liga Peatonal querem o redesenho das cidades para faze-las mais humanas: cidades sem incidentes viários, cidades para todos”.
Então: multimodalidade ativista, consciência e luta pela segurança viária. Ativistas que trabalham como acadêmicos universitários, técnicos em empresas, ONGs, prefeituras. Todos comprometidos por uma cidade melhor, sem limites de modais, sem as etiquetas de nenhum modo de transporte, trabalhando juntos para pressionar as autoridades, conseguir melhores projetos, orçamentos, ruas, mais vida e menos mortes absurdas.
Vamos tomando nota.
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Na volta para o Brasil tive a sorte de ficar umas horas na Cidade do México, que já tinha conhecido muito brevemente. Apaixonada pela mobilidade urbana, fiz o habitual: tirei fotos do chão! das pessoas atravessando a rua (tentando), da acessibilidade e sinalização do BRT e do metrô (no “mapa de bairro” marcam os equipamentos mas também onde estão os pontos de ônibus), dos calçadões, dos meios de transporte que não temos em São Paulo e dos Pockets Parks e comida de rua que sim temos (tudo lá é mais ardido!). Gracias por la acogida y amabilidad, México, volveremos! Nota 10 para vuestro Congreso!
As fotos são de Irene Quintáns e Rafa Ocaña