Hoje gostaria falar com vocês sobre o encontro internacional que aconteceu os dias 16 e 17 de janeiro em Madrid, Espanha. Sempre gosto de mostrar experiências desenvolvidas em áreas urbanas semelhantes as do Brasil, mas no III Encontro de Educação em Arquitetura para a Infância e a Juventude houve espaço, aprendizagens e intercâmbios entre todos.
O que era este encontro? Uma iniciativa de Osa Menor (com Jorge Raedó, arte-educador e assessor da Red OCARA), coordenado pelo coletivo Cuarto Creciente (com Virgina Navarro), patrocinado pelo ProxectoTerra (coordenado por Xosé Manuel Rosales e projeto educativo Prêmio Nacional de Urbanismo, Espanha 2010) e organizado pelo grupo Playgrounds.
O que é o grupo Playgrounds? Trago aqui as palavras do Jorge Raedó, no seu Blog “La tierra y otras escuelas”.
El Grupo Playgrounds es el colectivo de profesionales que enseña arquitectura a niños y jóvenes aquí. ¿Dónde es “aquí”? Empezó con miembros del Estado español y se va ampliando a Portugal, América del Sur y Central, países de Europa… Todos ellos hacen un magnífico trabajo (a menudo heroico debido a la escasez de recursos) en sus zonas de actuación.
El I Encuentro del Grupo Playgrounds se celebró en mayo 2014 en el Museo Reina Sofía, coordinado por La Casa de Tomasa. (NOTA:A exposição “Playgrounds”, hospedada no museu e sede do encontro, deu nome ao grupo).
El II Encuentro se celebró en Barcelona en julio de 2014 en la Nau Ivanow, coordinado por El Globus Vermell y Arquect.
El III Encuentro de Educación en Arquitectura para la Infancia y la Juventud tuvo como meta continuar el mutuo conocimiento entre los profesionales locales, y a la vez conocer experiencias de otras partes del mundo. Mezclar a todos para que la suma dé más que las partes sueltas.
(“Misturar a todos
para que a suma seja mais do que as partes isoladas”)
Houve palestrantes da Europa (Finlândia –Jaana Räsänen-, România –Mina Sava-, Italia –Marta Morelli- , Alemanha –Angela Uttke-, Espanha –Xosé Manuel Rosales, Javier Abad) e uma interessante representação da Latino-américa: Colômbia –Carlos Naranjo e Claudia Stella Celis-, Costa Rica –Carolina Pizarro- e do Brasil, tivemos a honra de apresentar dois nascidos na Espanha mas paulistanos desde 2011: Miguel Rodríguez “Mr. Basurama” e eu, falando da Red OCARA e outros trabalhos.
Para saber mais sobre todas as apresentações podem mergulhar no detalhado post do Jorge Raedó, aqui.
Eu, no entanto, vou comentar com vocês qual foi o desafio. Todas as palestras mostraram diretamente seus trabalhos: como o ensino de arquitetura é integrado no Curriculum nacional da Finlândia, como é desenvolvido trabalho de participação cidadã infantil nas prefeituras e nos centros educativos, entre outros.
Mas… São Paulo é um desafio. Inaugurei este blog com o post titulado “A cidade das pressas. Tempos, passos e espaços”.
A cidade onde todos correm. Todos estão chegando tarde ou querem chegar primeiro. Ou seguem a inércia da pressa. A cidade onde “Se não dá sinal, os carros passam e as pessoas ficam sem passar para ir à casa de alguém”. A cidade que foi protagonista da minha apresentação tinha o título “Pequenos habitantes na cidade das pressas”. Que outro nome poderia ter dado?
Porque quando faço uma oficina no espaço público, os pais e mães sempre estão com pressa, inclusive no domingo. E as crianças ficam olhando, “eu quero ficar”, mas os adultos justificam seu desinteresse na atividade através da pressa. Porque quando faço uma palestra, fico feliz que as pessoas disponham seu precioso tempo para participar. Porque quando trabalho nos bairros mais distantes da cidade, onde muitos paulistanos moram, fico mais ciente do muito longe que eles têm suas casas. Eu faço o percurso inverso para encontrar eles, do centro até a periferia, em horário de luxo. Eles têm muito mais difícil percorrer esses quilômetros e tentar não chegar fora do horário, pois nada pode atrasar na capital financeira da América Latina… todos têm pressa.
E as crianças? As crianças habitam esta cidade. E o que tento transmitir através do meu trabalho são conceitos muito importantes para elas, para todos. Coordenadas para sentir dentro de você que também é um habitante da cidade. Tanto faz a idade, onde você dorme, onde você nasceu ou quanto dinheiro têm seus pais.
Referências, mapas mentais, PERTENCIMENTO. Compartilhar o espaço público, que é de todos. Conviver com as diferenças. Reconhecer-se através do olhar do outro. Habitar a cidade. O que é ser habitante da cidade?
Para o público, 200 pessoas reunidas para aprender das experiências de ambos lados do oceano, Carolina Pizarro da Costa Rica trouxe a fala da criança que pediu uma cidade “que proibisse menos e cumprimentasse mais”.
E Mr Basurama fechou o rico encontro com sua máxima, “A cidade é para brincar”
“Houve ruas em São Paulo que só conheci de carro. Anos depois, passando por elas, me espantei com a vida que deixei de perceber, e com o que a pressa me levou a ignorar. Moramos na cidade, mas nela quase já não vivemos” (Alexandre Pelegi)
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REFERÊNCIAS:
Imagem 1_Cartaz do III Encontro de Educação em Arquitetura para a Infância e a Juventude, desenhado por Cómo crear historias
Imagem 2_ Foto usada como cartaz e capa do livro da Exposição “Playgrounds”, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, 2014. Foto: Palle Nielsen
Imagem 3_ Capa apresentação Irene Quintáns. Foto da autora
Imagem 4_Oficina da Red OCARA. Foto: Irene Quintáns (2014).
Fotomontagem 5_ Oficinas Red OCARA. Oficina para Greenpeace, Dia Mundial sem Carro (2014). Oficinas para Urbanismo Caminhável, Jundiaí (2015).
Imagem 6_ Apresentação da Carolina Pizarro, Costa Rica
Imagem 7_Basurama Brasil, intervenção na Praça do Patriarca, Virada Cultural São Paulo, 2014
Cita final_PELEGI, Alexandre; TOLEDO, Ireneu. Acertar é humano: bons motivos para você acreditar e apostar na vida. Idéia & Ação, São Paulo (2008).