Luiz Gustavo Corrêa é especialista em Planejamento e Gestão de Trânsito, e desenvolve projetos de Educação no Trânsito em escolas. Graduado em Gestão de Recursos Humanos, com pós-graduação em Logística e Distribuição, é ainda técnico em Segurança do Trabalho, tendo lecionado a matéria no Senac de Ribeirão Preto.
Ao expressar a minha visão e opinião sobre os desafios da mobilidade das pessoas em Ribeirão Preto, meu objetivo é estimular os cidadãos a exercer seus direitos e alertar as autoridades sobre as consequências de suas atitudes.
A cidade paulista de Ribeirão Preto foi fundada em 19 de junho de 1856 a partir de núcleos fazendeiros de criação de gado, e destacou-se no setor cafeeiro, o qual foi arruinado com a crise de 1929.
A região é uma das mais ricas do estado de São Paulo, apresentando elevado padrão de vida (renda, consumo, longevidade etc.). Além disso, possui bons indicadores sociais (saúde, educação e saneamento), uma localização privilegiada, próxima a importantes centros consumidores.
Com o crescimento da cidade e o aumento das oportunidades de trabalho, o poder aquisitivo das pessoas aumentou, o que levou a facilidades que lhes possibilitaram a compra de veículos. O impacto do aumento da frota na cidade teve como consequência os congestionamentos, bem como os índices de acidentes no trânsito.
Segundo dados de pesquisa realizada em 2010 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), Ribeirão Preto possui uma população de 605.114 habitantes, 338.922 veículos e um número de bairros cada vez mais afastados do centro – é quando a necessidade de locomoção se torna maior perante a população.
E o planejamento em mobilidade, infraestrutura e fiscalização não vem acompanhando o crescimento da cidade. O serviço de transporte público, não atendendo às necessidades dos moradores, acaba sendo um problema que a cidade ainda não soube resolver, o que força as pessoas a utilizarem diariamente seus veículos próprios.
O número elevado de acidentes com vítimas em Ribeirão está associado ao crescimento da frota, principalmente de motocicletas. Os motociclistas ficam mais expostos e, em caso de uma batida com outro veículo, a probabilidade de que sofram ferimentos graves é sempre mais alta, tendo em vista sua vulnerabilidade.
Mesmo sendo os motociclistas os mais atingidos pela má educação no trânsito, um levantamento feito pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo aponta que a frota de motos em Ribeirão Preto cresceu de 44.670 para 108.684 em 11 anos, o que corresponde a 143% de aumento.
Comportamento agressivo do motorista
Venho estudando os motivos que levam os condutores da cidade de Ribeirão Preto a se comportarem de modo cada vez mais agressivo, com as pessoas deixando a educação de fora das relações de convivência no trânsito.
No dia 9 de setembro deste ano, participei de uma entrevista para a afiliada da Rede Globo, a EPTV Ribeirão, sobre o problema encontrado na mobilidade das pessoas na rotatória Amin Calil, onde o fluxo dos carros é intenso e o risco de acidente é presente.
O local é a única alternativa dos motoristas que vêm dos bairros nas zonas oeste e norte da cidade; desta forma no horário de pico é uma calamidade e uma dificuldade para transitar na rotatória.
O usuário não tem por onde acessar o centro da cidade, e acaba sendo obrigado a transitar pela rotatória. Para resolver o problema, uma alternativa seria mudar o fluxo de trânsito em algumas ruas, sinalizar bem, ter uma sinergia de comunicação com o motorista para direcioná-lo a alguma rota alternativa e, desta forma, minimizar os impactos nos momentos de pico.
Outra opção apontada nesta matéria seria o investimento no transporte público. A melhoria do serviço municipal poderia fazer com que os motoristas deixassem seus carros em casa e optassem por usar o transporte público.
De fato, uma das opções é tirar o automóvel das ruas, incentivando as pessoas a usarem o ônibus. No momento da reportagem vimos várias pessoas sozinhas no carro (sinal de individualismo). Mas, se retirássemos metade desse contingente do congestionamento e o colocássemos nos ônibus, também seria uma calamidade… O transporte precisa ser pensado e a infraestrutura melhorada para atender a essa nossa necessidade. A cidade precisa estar preparada para isso.
Com os ônibus lotados e sem estrutura adequada para atender à demanda das pessoas, o cidadão utiliza o que a cidade lhe dá de opção: utilizar o veículo particular, atraindo cada vez mais o uso individual dos veículos e acarretando congestionamentos e tempo perdido no transitar do dia-a-dia.
Sobre a mencionada reportagem na TV, a empresa que gerencia o trânsito na cidade de ribeirão Preto (Transerp) não enviou nenhum responsável para falar sobre o problema. Como sempre.