A distribuição da população no território consiste na mais essencial informação para o planejamento de transporte de pessoas, pois o número de deslocamentos originados em dada área é diretamente proporcional a sua massa populacional. Informações demográficas são o ponto de partida no processo de planejamento e, nesse sentido, censos oferecem uma das
mais valiosas e confiáveis bases de dados. O mais recente levantamento do IBGE revela uma interessante pluralidade de
dinâmicas demográficas nos municípios brasileiros. As sedes das maiores aglomerações urbanas já não crescem a taxas
explosivas como no passado.
As duas metrópoles com influência internacional, São Paulo e Rio de Janeiro, cresceram a moderados 0,7% ao ano na
última década. As populações de Salvador e Curitiba se expandem a menos de 1% ao ano, e Fortaleza se aproxima
dessa taxa. Isso representa a possibilidade de rompimento com a disritmia entre a evolução dos sistemas de transporte
coletivo e o ritmo do crescimento populacional observado na segunda metade do século passado. Acompanha a
estabilização demográfica a redução da margem de incerteza das estimativas, sobre as quais os planos se baseiam.
A metrópole que segue registrando a mais acelerada evolução populacional é Brasília, que acaba de superar os 2,5
milhões de habitantes - cinco vezes o previsto por Lúcio Costa para o Plano Piloto. Muito mais dinâmicas se revelam
sedes de "aglomerações não metropolitanas", como Petrolina (PE) e Cabo Frio (RJ), onde a população cresceu ao ritmo
médio de 3% e 3,9% por ano, respectivamente, entre 2000 e 2010. O caso de Petrolina é ainda mais instigante para a
formulação de estratégias de desenvolvimento regional, pois, na outra margem do rio São Francisco, a taxa de
crescimento de Juazeiro (BA) ficou na casa de 1,3% ao ano. Como os dois municípios estão ligados cultural e
economicamente e compõem um só centro urbano, seriam bem-vindas estratégias de cooperação para o planejamento de
transportes integrado e para o desenvolvimento territorial equilibrado.
O censo de 2010 mostra ainda que o decréscimo populacional é realidade em várias localidades. Quase cem dos 5.565
municípios brasileiros perderam entre 2000 e 2010 mais de 2% de seus habitantes ao ano, sobretudo em virtude de
movimentos migratórios. Vinte e sete municípios cruzaram de volta a marca dos 20 mil habitantes, ficando por lei
desobrigados a elaborar plano diretor e plano de mobilidade urbana. No entanto, exatamente neste contexto, é
fundamental estimular o processo de planejamento para evitar o surgimento de vazios urbanos e para utilizar de
forma eficiente os já existentes equipamentos e infraestruturas públicas. No outro sentido, 186 municípios
engrossam a parcela daqueles com mais de 20 mil habitantes e terão de desenvolver planos, embora suas administrações
contem com escassos recursos humanos e financeiros e tenham pouca ou nenhuma experiência em planejamento.
Para esses municípios, consiste em tarefa prioritária definir estratégias para o desenvolvimento urbano e para a
mobilidade sustentável a partir de informações censitárias ainda bastante atuais.
THIAGO GUIMARÃES Mestre em Planejamento Urbano, pesquisador do Instituto de Planejamento de Transportes e Logística em Hamburgo (Alemanha) e consultor do projeto Mobilize Brasil
Artigo originalmente publicado na Revista CNT Transporte Atual, Edição 205, página 79