Palavra de Especialista

18
junho
Publicado por admin no dia 18 de junho de 2013

Reinaldo Canto 

 Jornalista, pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento, com passagens pelas principais emissoras de televisão e rádio e grandes organizações como Greenpeace Brasil, Instituto Akatu e  Instituto Ethos. Colunista da Carta Capital, Mercado Ético e do programa Observatório do Terceiro Setor da Rádio Trianon. Autor do site ecocanto21.com.br e do blog cantodasustentabilidade.blogspot.com.br

 

 

 

As manifestações contra a tarifa dos ônibus são apenas um passo no longo processo de construção da democracia e da cidadania
 
Os recentes protestos não deveriam ser razão de tanto espanto, a ponto de causar reações indignadas vindas de setores mais conservadores ou mesmo acomodados da sociedade brasileira (tão pouco acostumadas a manifestações cidadãs de revolta e rebeldia).
 
Nesse sentido estivemos durante muitos anos – aliás, desde o estabelecimento da ditadura – desacostumados a grandes demonstrações civis de descontentamento generalizado.
 
Com exceções de algumas delas cobertas de consenso como as Diretas Já ou o Fora Collor, as concentrações estiveram sempre ligadas a setores específicos como greves de professores, metroviários que atuavam especificamente nas questões salariais e melhorias nas condições de trabalho.
 
Muito diferente é quando surgem nas telas da tevê milhares de pessoas em marcha pelas principais avenidas de São Paulo acompanhadas de imagens de lixos revirados, vidraças quebradas e cabines policiais incendiadas. Parece o fim dos tempos.
 
A clara distorção ao não mostrar o outro lado contribui para que muitos tenham a sensação de estarmos cercados de baderneiros.
 
A verdade nesses tempos de smartphones, facebooks e comunicações instantâneas não tardam a aparecer e derrubar os argumentos de mídias conservadoras que insistem em colocar os manifestantes na fácil alcunha de “vândalos”, “baderneiros sem causa” e outras adjetivações, inclusive de baixo calão.
 
Na vã tentativa de criar uma realidade paralela baseada em condomínios fechados, carros blindados e saúde privatizada, a nossa pretensa elite tenta se manter distante e alheia à construção de uma sociedade mais equilibrada, justa e sustentável.
 
Os espaços públicos que deveriam servir a todos acabam sendo paulatinamente “roubados” da sociedade em nome do progresso ou abandonados e deteriorados. Parece que às nossas autoridades será melhor que as pessoas frequentem os paraísos de compras, os conhecidos shopping centers, do que passar um belo domingo de sol em parques e praças públicas. No lugar da integração fica a exclusão com todo o mal que trás as relações sociais.
 
Mas as inúmeras manifestações que vêm ocorrendo em todo o mundo, pelas mais diversas razões, carregam em seu íntimo o inconformismo de muitos pelo direito à liberdade de expressão. E aqui não poderia ser diferente, mesmo que tivesse demorado a chegar.
 
Os problemas das metrópoles brasileiras estão aí expostos para quem quiser ver e é praticamente impossível negá-los: dificuldades de mobilidade cada vez maiores (incentivo ao uso e compra do automóvel em detrimento do transporte público); deterioração de bairros e regiões inteiras (em nome da especulação imobiliária); falta de segurança; a ausência, enfim, de políticas públicas que busquem efetivamente contemplar a maior parte da população e só faz agravar as consequências dos desequilíbrios.
 
Os jovens e os não tão jovens que decidiram agora ocupar os espaços públicos estão resgatando o óbvio: em primeiro lugar, o direito inalienável de se manifestar. Já a nossa polícia, ainda sob os resquícios de tempos tristes e obscuros, demonstra não estar preparada para receber a incumbência de proteger os manifestantes, mas de reprimi-los a todo custo, pois em sua formação militar o espaço público possui a mera função de se manter livre e desimpedida, apenas para a circulação, o fluxo “ordeiro” determinado por seus superiores.
 
Quando milhares de pessoas tomam as ruas, nossos policiais passam a encará-los como verdadeiros combatentes inimigos, uma turba selvagem a corromper a ordem e o progresso. Entre esses “adversários do mal” também se encontram jornalistas como o colega desta CartaCapital, Piero Locatelli, preso por de portar uma poderosa e ameaçadora garrafa de vinagre.
 
Assim como em outros países, as manifestações só estão começando.
 
Os tais 20 centavos de aumento para um transporte público de má qualidade foi apenas o estopim para outras, que certamente virão.
 
Nossas autoridades, antes de condenar alguns poucos atos de pretenso “vandalismo”, devem estar atentas às reivindicações e priorizar o interesse coletivo. Tratar a todos com respeito e buscar o diálogo trarão mais benefícios do que o enfrentamento irracional.



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Olímpio Alvares Olímpio Alvares
escreve e convida especialistas em mobilidade urbana a compartilhar opiniões e comentar os assuntos em destaque no noticiário nacional e internacional. Olimpio é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da USP, diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica, emissões veiculares e poluição do ar. Atuou durante 26 anos na área de controle de emissões veiculares da Cetesb, concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo, o Programa de Inspeção Veicular e o Programa Nacional de Controle de Ruído de Veículos. É fundador e secretário executivo da Comissão de Meio Ambiente da ANTP; diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sobratt; assistente técnico do Proam; consultor do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da América Latina, (CAF) e entre outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil, como o Mobilize Brasil..

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