Palavra de Especialista

14
março
Publicado por Eduardo Barra no dia 14 de março de 2012

 


Faz tempo, mas não dá para esquecer: em 1989, conheci grande parte de Los Angeles montado em uma bicicleta. Estendendo-se até o horizonte sobre uma contínua superfície plana, a cidade mantinha temperatura cálida – mas amena –, quase nenhuma chuva naqueles meses de verão e transporte público bastante precário, fatores que estimularam a opção pela magrela. Mas sabemos que o povo americano idolatra o carro, a ponto de ter transformado a megacidade na menina dos olhos da indústria automobilística, com agências de automóveis em cada esquina, freeways que se conectam a outras freeways e a outras freeways, todas com seis ou oito faixas de rolamento. Para se ter uma idéia a Grande LA da época possuía 15 milhões de veículos de uso urbano, enquanto o Brasil inteiro contava com 14 milhões. Hoje, essa proporção mudou – para pior, no caso do nosso querido país.

 

Bom, e como é que um solitário ciclista como eu (e poucos outros) conseguiu sobreviver em meio a tantos veículos sem virar asfalto ou mesmo se sentir ameaçado? Talvez você esteja imaginando que o paraíso do automóvel contava, em paralelo, com uma complexa trama de pistas para bikes, mas a verdade é que a cidade não possuía, então, um único metro de ciclovia. E como é que eles conseguiram contornar essa carência e seus inevitáveis conflitos? Eu mesmo respondo: através da EDUCAÇÃO.

 

Convencionaram que, na pista direita das ruas – sejam estreitas, largas ou larguíssimas –, o ciclista tem prioridade. Ninguém considerou a necessidade de delimitar territórios através de barreiras de concreto, placas, sinais luminosos ou pinturas coloridas, apenas se preocuparam em deixar toda a população muito bem informada sobre as regras de convívio. Ah, sim, e também em punir rigorosa e exemplarmente o desajustado que viesse a cismar de desrespeitá-las.

 

A contrapartida é que as leis de trânsito passaram a valer também para os ciclistas. Com isso, bicicletas não podem avançar semáforos, transitar sobre calçadas ou na contramão e, à noite, precisam ter luz vermelha na traseira e farol na frente. Você há de convir que é um belo de um custo-benefício, não?

 

Nos cruzamentos, carros e bicicletas esperam o sinal verde. Quando abre, motoristas aguardam a partida dos ciclistas, observam o rumo que pretendem tomar e, só então, engatam a primeira. E ai dos afobadinhos! É que as leis de trânsito não são tratadas como leis menores, como costuma ocorrer entre nós. Lei é lei e infringir a Lei é crime; e todo criminoso representa perigo para a sociedade, merecendo ser algemado e recolhido ao distrito policial para registro da ocorrência, depoimento e pagamento de fiança ou cumprimento de pena condizente com o crime. Isso vale para o motorista e para o ciclista, indiscriminadamente. Ou seja, há que se pensar muito bem antes de qualquer “baianada” (que me desculpem a expressão e o conceito incorretos).

 

Não sei se as coisas por lá continuam assim, pois não voltei para conferir. Mas a história serve como exemplo de que não são necessárias obras faraônicas, inaugurações espalhafatosas ou estruturas complexas e onerosas para resolver problemas simples. Basta simplicidade. E eficiência, claro!



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