Apresentação de especialista do organismo internacional destaca a situação de São Paulo, cuja frota de ônibus é a maior geradora de poluentes da cidade. E condena a demora das autoridades em adotar padrões mais modernos
Por Olimpio Alvares
Assista à apresentação de Cristiano Façanha – responsável, entre outros, pelos estudos do International Council on Clean Transportation (ICCT) para o mercado automotivo brasileiro. A breve palestra explica aspectos relevantes da polêmica que cerca a incompreensível resistência das autoridades ambientais brasileiras em avançar para a tecnologia diesel Euro 6.
Depreende-se da apresentação do ICCT, que não há definitivamente razões de qualquer espécie para que o Conama/Ibama continue procrastinando a introdução da tecnologia Euro 6 nos veículos pesados novos. Por pressão dos fabricantes de veículos, que almejam continuar despejando no mercado brasileiro uma tecnologia defeituosa, ineficiente e cara (Euro 5 ou Proconve P7), impera no nível federal o injustificado adiamento reiterado de obrigações e urgências para com a saúde pública e o meio ambiente. A tecnologia Euro 6 tem um filtro que retira quase a totalidade do material particulado cancerígeno da atmosfera e corrige as altíssimas emissões de NOx dos atuais Euro 5.
E se o avanço da produção de pesados para Euro 6 não ocorrer até no máximo 2020, como acaba de decidir a Índia, que venceu a queda de braço com as montadoras, a lei de redução de emissões de ônibus urbanos do Município de São Paulo será, outra vez, descumprida. Os brasileiros não aguentam mais esse jogo de exacerbada inadimplência ambiental.
Além disso, como ressaltou o representante do ICCT em sua apresentação, o Brasil é o último dos grandes blocos de países a avançar para Euro 6. Causa grande perplexidade saber que montadoras brasileiras já fornecem caminhões e ônibus no padrão Euro 6 para o Chile e o México melhorarem a qualidade de vida dos chilenos e mexicanos.
Aqui as montadoras estão preocupadas apenas em manter o baixíssimo padrão de performance ambiental de seus veículos – aliás, esse é um nicho comercial muito lucrativo para os fabricantes brasileiros.
Por outro lado, em São Paulo, no nível estadual – sempre mais próximo e preocupado com os graves problemas da poluição do ar, que mata cerca de 17 mil pessoas por ano no Estado – houve recentemente forte pressão corpo-a-corpo sobre as autoridades ambientais constituídas, por parte de um grupo organizado, formado por especialistas de larga experiência e agentes do Ministério Público Federal e Estadual, e das organizações da sociedade civil, lideradas pelos atuantes Instituto Saúde e Sustentabilidade e Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam).
Embora tardiamente, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente foi sensível a essas justas demandas externas e iniciou um processo interno de auto-crítica e tomada de decisões corretas, no sentido do avanço para Euro 6, o mais breve quanto possível.
O então Secretário de Estado do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e agora o atual secretário Maurício Brusadin, defenderam o avanço imediato para o Euro 6. Brusadin foi ainda mais longe, pelo menos no papel: como presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) emitiu uma importante circular que marca o posicionamento de São Paulo, recomendando aos gestores de transporte público de passageiros do Estado, a compra exclusiva de veículos com tecnologia Euro 6.
Infelizmente, ainda não temos nenhuma notícia de decisão de compra de veículos Euro 6 por parte da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU) ou de outras empresas estatais, o que seria um bom começo e modelo para todo o país.