Por Archimedes Azevedo Raia Jr.
A arborização urbana é, por definição, toda vegetação que compõe a paisagem da cidade, e é considerada como um dos componentes bióticos mais significativos para uma urbe.
As áreas verdes de domínio público são as praças, jardins, parques, bosques, e a arborização do sistema viário (passeios e canteiros). A arborização de vias públicas está associada às árvores plantadas de forma linear ao longo das calçadas. Se, por um lado, ela é a vegetação mais próxima da população, por outro, é a que mais padece com a ausência ou deficiência de planejamento e fiscalização, bem como pela precária conscientização ambiental.
As árvores desempenham, no ambiente urbano, função primordial na melhoria da qualidade de vida da população, principalmente no que se refere ao conforto ambiental. No entanto, a falta de política voltada à sua preservação leva a uma situação de supressão prematura e criminosa das árvores. Os principais motivos alegados para o corte desregrado das árvores são: conflito com a calçada, “atrapalham” o muro, a edificação, os sistemas de água e esgoto, a fiação aérea, a entrada de garagem, a vitrine, e soltam muitas folhas etc.
A lei 12.587/12, que dispõe sobre Política Nacional de Mobilidade Urbana, apregoa a prioridade dos modos de transportes não motorizados (a pé e por bicicleta), sobre os motorizados. A lei objetiva proteger e incentivar as viagens pelo modo a pé, responsável por um terço das viagens urbanas no Brasil.
Em Bauru, as leis 5825/09 e 6296/12 almejam assegurar condições adequadas para as calçadas e, por conseguinte, para o tráfego de pedestres. Já, a lei 4368/99 trata da arborização urbana. Esta última estabelece que “os projetos de instalação de equipamentos públicos ou privados, em áreas já arborizadas, deverão estar de acordo com a vegetação arbórea existente e empregar a melhor tecnologia possível de modo a evitar futuras podas ou a supressão das árvores, sendo que os referidos projetos serão submetidos à análise da Semma.”
Na prática não é isto que se constata. A conservação das calçadas é precária, para não dizer inexistente. A cidade possui uma quantidade pequena de árvores, muito aquém do que seria esperado para incentivar o transporte a pé, considerando os níveis característicos de calor. Das poucas árvores existentes, principalmente na região central, muitas delas têm sido ceifadas sem dó. E, na maioria dos casos, não é feita a reposição ou esta se dá através de plantio de arbustos que, mesmo sendo ser bonitos e vistosos, não cumprem o papel de sombrear o passeio e facilitar a vida do pedestre.
Mobilidade urbana sustentável exige infraestrutura adequada ao pedestre. Bauru precisa avançar (e muito) neste sentido. Afinal, trafegar pelas calçadas bauruenses é quase um exercício de sobrevivência em um ambiente escaldante.
Archimedes Azevedo Raia Jr. é doutor em trânsito e transportes, docente da UFSCar, diretor de Mobilidade da Assenag e membro do Cconselho da Associação Nacional de Transportes Públicos. Artigo publicado originalmente no JCNet, de Bauru (SP)