É estarrecedor pensar que um mar de pessoas – em sua maioria miseráveis – ainda não tem acesso a um recurso que para muita gente passa despercebido no dia a dia: a água.
De acordo com a Unesco, em um relatório recente lançado às vésperas do Dia Mundial da Água, celebrado em dia 22 de março, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo não contam hoje com uma fonte adequada de água potável e um número ainda maior, 4,3 bilhões, não conta com saneamento básico.
O documento ainda traz uma análise muito interessante sobre a desigualdade: as pessoas que são pobres ou sofrem discriminação social têm maior probabilidade de ter acesso limitado à água e saneamento adequados.
E quando um direito tão essencial é negado significa que outros, como educação, saúde e habitação, também são comprometidos. Ou seja, falamos de uma cascata de privações que afetam cidades de todo o país e que atingem, sobretudo, quem mais precisa e está no início da vida.
Como exemplo de grupos desfavorecidos estão as pessoas que também adquirem algum tipo deficiência por conta da falta de saneamento básico, atendimento adequado de saúde e reabilitação, pouco acesso à informação e outros problemas decorrentes da pobreza. Estima-se que 90% dos casos de deficiência visual causadas por doenças como a catarata e o glaucoma, por exemplo, estejam concentrados em nações em desenvolvimento.
E quando trazemos esse olhar para as cidades, a desigualdade é ainda mais escancarada. As casas urbanas ricas com água encanada tendem a pagar muito menos por litro de água, enquanto pessoas pobres que moram em favelas muitas vezes precisam comprar água de caminhões, quiosques e outros fornecedores, gastando cerca de 10 a 20 vezes mais. Uma equação perversa.
Nesse contexto, melhorar a gestão dos recursos hídricos e fornecer a todos o acesso à água potável e saneamento seguros e acessíveis financeiramente são ações essenciais para erradicar a pobreza, construir cidades pacíficas e prósperas, garantindo que ‘ninguém seja deixado para trás’.
Estar à frente de um segmento que é tão negligenciado no Brasil e ser a personificação de uma somatória de exclusões (mulher e tetraplégica), me desperta a cada dia para o descumprimento dos direitos humanos em nosso país e no mundo. E o acesso à água é um direito humano. Um direito que ainda está na mão de quem detém o maior poder.
Lá, o acesso à água potável é escasso e o local vive sob o risco eminente de epidemias causadas por doenças trazidas de enchentes e da falta de saneamento básico. Não por acaso, a inclusão em Vanuatu caminha a passos lentos. Não há, por exemplo, intérpretes da língua de sinais em toda a Ilha. A população surda vive a exclusão da exclusão.
O exemplo de Vanuatu serve não só para repensarmos nossa relação com a água e o desperdício, mas provoca nosso olhar para a inclusão e partir da distribuição desigual dos recursos hídricos no mundo e das ações do homem no meio ambiente. Quando a água chega a todo mundo é um alerta positivo de que a inclusão está no radar de determinada nação.