Mobilize

Em 2008, quando foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Ricky Ribeiro, na época com 28 anos, teve de deixar o trabalho como consultor em sustentabilidade e enfrentar uma nova realidade impactada pelos efeitos de um diagnóstico devastador. A perda de movimentos é só um deles.

Inquieto, depois de muito se dedicar a tratamentos, mudou o rumo da vida e resolveu encarar um novo desafio: criar um portal sobre mobilidade urbana sustentável. Surge então o Portal Mobilize, canal para transformar as pessoas e as cidades.

O interesse por mobilidade e urbanismo já fazia parte da vida de Ricky e ganhou importância quando ele foi morar em Barcelona para cursar um mestrado em Sustentabilidade. Encantou-se ao constatar que a qualidade de vida das pessoas poderia ser infinitamente maior em uma cidade com uma disposição urbana inclusiva, que valorizasse os espaços públicos e estimulasse a convivência social entre diferentes grupos e classes. Pensou então em criar maneiras para melhorar a qualidade de vida também nas cidades brasileiras.

Conheci o Ricky tempos depois deste insight, quando o Mobilize ainda era um projeto em fase de implementação. Fiquei encantada com a ideia e a disponibilidade de um jovem cheio de conteúdo e vontade de transformar. Vi que o projeto tinha muito a somar para o meu trabalho e a vida de muita gente.

Não me canso de dizer que sou um exemplo prático de que sozinho não chegamos a lugar algum. No meu caso a expressão ganha sentido literal, mesmo. Afinal, sem a ajuda de uma pessoa não saio do lugar, por motivos óbvios: preciso de alguém para viver. Essa nova condição de vida despertou meu olhar para diversas questões. A forma como as cidades e as pessoas interagem é uma delas.

Penso que a cidadania está na atenção que cada um doa ao bem estar coletivo. Neste sentido, o conceito de mobilidade urbana é uma extensão dessa conduta.

Conduta que o Mobilize vem instigando em outras pessoas quando incentiva a denúncia em calçadas; quando propõe mudanças no transporte coletivo, mas também estimula o uso de meios de locomoção alternativos; quando prega o bom aproveitamento de espaços públicos, sem deixar de respeitar o meio ambiente e principalmente, quando propaga informação de qualidade sobre como ter uma cidade mais acolhedora, ágil, dinâmica, sem deixar de ser humana.

Quando projetamos locais para atender pessoas com deficiência estamos preparando os espaços para contemplar também a população idosa. Um ônibus acessível para obesos será para uma pessoa com mobilidade reduzida. Assim como a criança que convive com outra que tenha alguma deficiência, ela será no futuro um adulto mais consciente. Terá um olhar natural para lidar com a diversidade humana.

Aos 26 anos, ao me deparar com uma severa deficiência física, vi que precisava me reinventar para encarar a nova vida que batia a minha porta com uma cadeira de rodas, em um Brasil sem acessos àqueles, que, como eu, tinha uma deficiência. Hoje, ver iniciativas como essa, conduzida por um jovem que deixou de olhar só para si para transformar a vida do outro, me emociona.

Esse trabalho, além de colher frutos diários, como o da participação cidadã, já é reconhecido por quem entende do assunto. O Prêmio Estadão PME, na categoria Empreendedorismo Social, perpetua a importância de um trabalho de reflexão cidadã em um país onde a questão da mobilidade urbana pouco faz parte da pauta dos governos. E onde há uma carência latente de informação sobre a temática em todas as esferas.

Os gestores precisam ser mais acessíveis, bem como a sociedade, que deveria ser mais participativa nas decisões do Poder Público para que os interesses de toda a população sejam atendidos. Tento fazer isso em meu trabalho como parlamentar e tenho o Mobilize como ferramenta para dimensionar os anseios de quem deseja uma cidade melhor para viver.

Recentemente, quando o mundo celebrou o Dia Internacional de Luta contra a ELA, em 21 de junho, o Brasil tinha um representante de peso lutando. Uma luta cujo objetivo é melhorar a vida do outro. E o resultado de todo esse esforço pode ser visto aqui. Nas ruas e nas pessoas. Todos os dias.