Aos 26 anos, ao me deparar com uma severa deficiência física, vi que precisava me reinventar para encarar a nova vida que batia a minha porta com uma cadeira de rodas em um Brasil sem acessos àqueles, que, como eu, tinha uma deficiência. Melhorar a minha vida, então, tornou-se um plano muito além do meu próprio universo. Afinal, quanto mais barreiras eu derrubasse em nome de acessos, mais pessoas poderiam passar, caminhar, cadeirar ali. De tijolinho em tijolinho quebrado, mais cidadãos poderiam, enfim, usufruir o que lhes foi subtraído: o direito de ir e vir com dignidade.
Hoje, vejo que muita coisa já mudou. Mas, outras tantas precisam ser feitas. Temos uma missão difícil, que galgamos paulatinamente: romper paradigmas e realizar uma mudança cultural no brasileiro – a começar de cima, no Poder. Muitos candidatos de cidades do interior de São Paulo – e de outros Estados -, têm me procurado para buscar apoio, dicas e orientações sobre como tornar-se um gestor público de seu município. Estes candidatos, dispostos a trabalhar pela acessibilidade no local onde vivem, são a prova de que o cidadão com deficiência está mais engajado e disposto a se tornar um agente ativo no seu País.
Esta inversão de papéis subtrai da pessoa com deficiência o papel de ‘coitadinho’ e a torna uma cidadã. A diferença entre uma nação inclusiva e uma que segrega está exatamente neste olhar. Londres, sede dos jogos paralímpicos, já fulgurava entre uma das cidades mais acessíveis do mundo, hoje, criou um legado de respeito à diversidade humana, que, inevitavelmente, fará parte do olhar e pensamento de toda a sua população.
Uma nação que adota políticas públicas que respeitam a diversidade humana não está beneficiando apenas um grupo, está contemplando o respeito às diferenças e as necessidades de cada um. Pense que uma cidade projetada para atender cadeirantes e cegos é apta para receber idosos. Uma criança que convive com outra com deficiência será no futuro um adulto mais consciente, desprovido de preconceitos. Esse ciclo incita a pessoa com deficiência a agir diretamente no crescimento de antigas e futuras gerações. Política é a ciência que estuda a melhor qualidade de vida de uma cidade. Cobrar por isso é função de todos nós.
Neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência vamos refletir sobre o quanto ainda podemos contribuir em prol de um País que, de fato, respeite a todos.
Mara Gabrilli