Costumo dizer sempre que sou um exemplo prático de que sozinho não chegamos a lugar algum. No meu caso, a frase ganha sentido literal mesmo. Afinal, preciso de uma pessoa 24 horas por dia para ter uma vida ativa e saudável.
Em meu trabalho não poderia ser diferente. Além da minha equipe, que é extensão dos meus movimentos e das minhas ideias, a população é a principal parceira e fomentadora do meu trabalho. Posso dizer que minhas maiores inspirações na carreira são em sua maioria as próprias pessoas com deficiência, que pautam as demandas e sinalizam o que precisa ser feito.
Recentemente, participei de um debate promovido pelo Diretório Acadêmico na Fundação Getúlio Vargas onde abordei a importância dos gestores em pautar suas políticas baseadas nas vozes que vêm das ruas. E fiquei muito satisfeita em ver um grande número de alunos participando da discussão, mostrando, sim, que tem interesse em política.
O auditório da FGV com 400 alunos é uma prova de que a sociedade quer ter papel na decisão de seus representantes, mas ainda falta espaço para a sua efetiva participação. Por isso, a importância de eventos como o Fórum do Mobilize, que nesta terceira edição debateu o legado das cidades brasileiras depois da Copa e com a preparação para as Olimpíadas. As informações e opiniões levantadas em discussões abertas como essa podem (e devem) se tornar pauta para a execução de políticas. Eu mesma já me pautei em estudos realizados pelo Mobilize para cobrar do Executivo a reforma do passeio público, por exemplo.
Essa troca acontece muito com o projeto Guardiões das calçadas, quando recebemos da própria população as fotos e endereços dos trechos de passeio danificados. Esses locais são acionados por meio de ofício onde as autoridades são cobradas da reforma. O mesmo acontece com os estabelecimentos comercias sem acessibilidade, cujas denúncias acontecem na minha própria página do Facebook. As pessoas indicam a barreira e minha equipe e eu vamos atrás para acionar os estabelecimentos. Não vejo maneira mais eficiente em melhorar cidades sem a participação de quem faz parte dela e vive em seu dia a dia os problemas para ir e vir.
Durante minha relatoria da Lei Brasileira da Inclusão, antigo projeto de lei do Estatuto da Pessoa com Deficiência, construímos um texto com a participação de toda a população. Para isso, fizemos audiências públicas em todos os estados do país, organizados por deputados de diversos partidos. Os cidadãos surdos e os cegos tiveram acesso ao conteúdo de todo o projeto em formato acessível. Foi a primeira vez, inclusive que um projeto de lei foi traduzido para a língua brasileira de sinais (Libras).
O projeto ficou disponível no portal e-democracia durante seis meses, para que toda a população pudesse opinar e sugerir mudanças à redação. Esse espaço fez toda a diferença para a qualidade do texto final. No total, foram cerca de mil contribuições da população em áreas de mobilidade urbana, saúde, educação, entre outras.
Não é mais possível pensar em políticas públicas de forma isolada e centralizadora. A qualidade das cidades está diretamente ligada à participação das pessoas nas decisões do Poder Público. Democratizar gestões é o primeiro passo para se construir cidades e serviços que atendam a todos.