Para começar a série de postagens que publicarei neste espaço, em colaboração com o Mobilize, acredito que uma boa introdução se faz necessária, se o leitor tiver paciência. Acabo de chegar em Amsterdam, na Holanda, e como não poderia deixar de ser, não entendi nada do idioma local. Tenho utilizado o inglês, que apesar das restrições tem funcionado muito bem. Este é apenas o ponto de partida de uma viagem prevista para durar seis meses e que deve terminar em Portugal. Durante este percurso convido vocês a acompanhar por aqui algumas das minhas impressões sobre a mobilidade nas cidades e países pelos quais eu devo passar.
Antes de chegar a Amsterdam, o ponto de partida desta viagem, o vôo saindo de São Paulo fez escala em Heatrow, na Inglaterra. No país da rainha o avião aterrisou antes do horário previsto e, antes de desembarcar, tive que aguardar algum tempo sentado no avião. O desembarque no entanto se deu na hora marcada, pontualmente as 07h05 (horário local), para orgulho de vossa majestade. Já no percurso de Heatrow a Amsterdam o vôo demorou a sair, e nem os enormes e completos painéis de informação deram conta de esclarecer o que estava acontecendo. O atraso só foi compensado pelas confortáveis poltronas e enormes sofás do aeroporto inglês, onde pude esticar as pernas e até deitar um pouco, bem a vontade. Mesmo assim meu vôo só foi anunciado uma hora depois do previsto, totalizando mais cinco horas antes de partir. Atrasos desse tipo não acontecem só no Brasil, pensei.
Em menos de duas horas o avião chegou a Amsterdam, totalizando 17 horas de viagem, contando o intervalo entre os vôos. Na saída do aeroporto montei minha bicicleta, que após a viagem estava com a corrente toda retorcida – ao tentar consertá-la, esta se quebrou e tive dificuldades de fixá-la com minhas ferramentas, já muito cansado e faminto. Esta era uma boa desculpa para pegar o trem. Paguei aproximadamente EU6,00 (seis euros) para me deslocar de trem e levar a magrela comigo. Sim, em Amsterdam existe uma taxa extra para levar bicicletas no trem. Os vagões tem dois andares, são muito confortáveis e permitem o acesso de bicicletas, embora não possuam local apropriado para elas. Após menos de 20 minutos desci próximo à Estação Central, onde encontrei uma bicicletaria. Em geral as estações de trem possuem uma oficina de bicicletas, além do bicicletário. Lá comprei uma corrente nova, que eu mesmo instalei em seguida.
Segundo moradores da cidade, a extensa malha cicloviária, os paraciclos, oficinas mecânicas e o serviço de aluguel de bicicletas nas estações de trem são uma tentativa do governo de desestimular o uso de automóveis na região central da cidade, uma área situada dentro do que eles chamam de anel. Há também um incentivo para automóveis estacionados junto às estações: são cobrados apenas EU8,00 (oito euros) por dia, muito menos do que em qualquer lugar no centro, que ainda lhes dá direito a duas passagens de trem (ida e volta). Em alguns lugares da cidade, inclusive próximo a Estação Central, as ciclovias são mais largas do que as vias destinadas aos carros.
Os incentivos parecem funcionar, afinal, mesmo com a temperatura beirando zero graus e um forte vento soprando durante todo o dia as ciclovias funcionam a todo vapor.
Os automóveis, por outro lado, são os veículos que parecem sofrer mais restrição no trânsito desta cidade. Eles devem dar preferência às motos, às bicicletas e aos pedestres. Estacioná-los perto do centro é caro, e exceto pelas vias expressas, as ruas destinadas ao tráfego deste modal são estreitas e de velocidade reduzida. Além disso, para desespero de muitos ciclistas no Brasil, aqui as pequenas motos, como Scooters, Vespas ou similares, também podem utilizar as ciclovias. Para um ciclista iniciante, portanto, não é tão fácil assim pedalar nas ciclovias holandesas.
As bicicletas tem prioridade total sobre os demais veículos e em alguns cruzamentos os ciclistas sequer olham para os lados, sabendo que a preferência é deles. Por isso a velocidade de bike é alta e sinalizar suas intenções quando estiver pedalando se torna fundamental. Isso é motivo de reclamação de muitos pedestres, que sofrem de fato quando devriam ter prioridade, mas não tem. Mesmo assim as calçadas são largas e as ruas são totalmente planas, o que possibilita o acesso de idoso, cadeirantes ou mães com carrinhos de bebê, por exemplo.
Além das ruas e ciclovias a cidade também conta com uma extensa malha de canais, boa parte dela navegável, linhas compartilhadas de bondes elétricos, corredores de ônibus, trens e metrôs. Mesmo assim muitos holandeses e turistas optam pelo automóvel, e ainda pegam congestionamentos nos horários de pico.
De Amsterdam devo partir pedalando para o leste, rumo à Alemanha, passando ainda por outras cidades holandesas. Até breve.
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