Du Dias, do blog Mobilize Europa, conta como cruzou a França pela Rota dos Dois Mares
Da baía de Arcachon, próxima a costa sul francesa do Atlântico, tracei uma rota para chegar às margens do rio Garrone, por onde segui até o Canal de Midi, com destino ao Mediterrâneo. Este trajeto é conhecido como Route de Deux Mers, já que liga o Atlântico ao Mediterrâneo e segue quase totalmente ao lado de rios ou canais.
Assim como boa parte das ciclorrotas na França, o canal do rio Garrone passa por uma importante região produtora de vinhos, diversos monumentos históricos, vilas e cidades medievais. O mesmo acontece com o Canal de Midi, o mais antigo canal ainda operando para o transporte fluvial na Europa. Não é preciso nem dizer que além das ciclovias e da navegabilidade dos canais, a região é bem servida de trens, rodovias e pequenas estradas vicinais.
Este caminho também é conhecido pelos franceses como Voie Vert, e compõe uma das inúmeras rotas verdes do país. Nada mais justo, porque realmente quase todo o percurso é feito em meio a belas paisagens, ao longo de rios e florestas. Entre as pontes que atravessam o canal do rio Garrone, ou que fazem parte dele, vale destacar a famosa ponte-canal na cidade de Agen. As embarcações atravessam o rio Garrone por uma ponte, que também possui calçadas para pedestres e ciclistas. Embora pareça algo mirabolante, a ponte-canal funciona desde 1849!
O sul da França é significativamente mais quente do que outras regiões do país, mas por pedalar ao longo de rios e canais, muitas vezes protegidos pelas sombras de árvores, o calor não chega a ser tão fatigante. Chegando em Toulousse, uma bela cidade com quase 500 mil habitantes, pude confirmar o que já havia notado em outros centros europeus: os fortes investimentos em infraestrutura cicloviária, em calçadas e no transporte coletivo, em detrimento ao modelo rodoviarista individual.
Bondes e ciclovias
Eu explico: pude ver, não só em Toulousse, a construção e operação de novas linhas de trams (bondes), um meio de transporte que foi praticamente abandonado anos atrás, quando a indústria automobilística estava a todo vapor, mas que agora está sendo recuperado e toma o espaço que anteriormente era dos carros. As ciclovias também ganharam importância, bem como as calçadas e as restrições aos automóveis nas regiões centrais. Pedestres ocupam as ruas em grande volume, e os comerciantes agradecem.
Outro mecanismo sempre presente nas cidades francesas é o sistema de aluguel de bicicletas. Em alguns centros é visível que a maioria das bikes circulando não é particular, e sim alugada. O sistema é simples e eficiente: o usuário paga uma tarifa anual e pode utilizar as bicicletas por períodos de 30 minutos, sem custo adicional. O tempo excedente é cobrado, a não ser que o usuário estacione a bicicleta em um dos pontos do sistema e pegue outra, sem ter que pagar.
Saindo de Toulousse não demorou muito para que eu chegasse ao Mediterrâneo, passando por Carcassone e Narbone, entre outras cidades menores. O caminho, mais uma vez, foi bastante tranquilo, seguindo o final da rota traçada anteriormente e sem maiores complicações. Deste ponto seguiria para a Espanha, para atravessar os Pyrineus margeando o Mediterrâneo.