Da cidade de Nantes, na região francesa conhecida como Pays de la Loire, segui até a costa atlântica, pedalando pelo final da ciclorrota La Loire até a Vélo, para pegar a combinação de duas outras rotas de bicicleta: a Vélocéan e a Vélodyssée, com destino à região de Bordeaux. Além de poder pedalar tranquilamente por vias quase sempre exclusivas e muito bem sinalizadas, viajar por cidades históricas e margeando o Atlântico parece um sonho.
Tanto a Vélocéan como a Vélodyssée são menos frequentadas por turistas ou viajantes do que a Loire à Vélo. Claro que durante o verão existe um grande movimento de bicicletas nestes cursos, mas seus condutores são tão respeitosos e amigáveis que tornam o caminho ainda mais agradável. Praticamente todos os albergues, hotéis, campings, bares e restaurantes por ali são bike friendly, ou seja, possuem local para estacionar as bicicletas e recebem muito bem os cicloviajantes, as vezes até com descontos especiais.
A infraestrutura cicloviária nesta parte da França é simplesmente incrível. Boa parte das ciclovias é asfaltada, mas ainda existem trechos de terra e outros em que o ciclista tem que dividir espaço com carros ou pedestres. Nada disso torna o pedal dificil ou perigoso, o que pode ser facilmente comprovado pelo enorme número de famílias viajando de bike com crianças pequenas e grupos de idosos pedalando tranquilamente. Em muitos trechos há cruzamentos de ciclorrotas, onde uma linha principal possui ramificações, todas muito bem sinalizadas. Para incentivar o turismo de bicicleta, nesta estação do ano (verão) os usuários de trem não precisam pagar nenhuma taxa extra para levar as bicicletas, o que não ocorre no resto do ano.
Em cidades como Palmyre, por exemplo, pude pedalar por uma estrada para bicicletas compartilhada apenas com pedestres, às margens do oceano. Naquele trecho, como em vários outros, não tive contato nenhum com as pistas para carros e sequer podia escutar barulho de motor. Quando tive que atravessar uma balsa perto de Rochefort, uma surpresa engraçada: além de lugares para pedestres e bicicletas, a embarcação também permitia o acesso de cavalos. Na sequência da viagem, já um pouco mais ao sul (próximo a Bordeaux), e no auge do verão, foram inúmeras as vezes que pedalei livremente por vias exclusivas, paralelas às pistas para carros, que apresentavam um trânsito extremamente carregado, em virtude da alta temporada.
Algumas vezes achei um pouco estranho o grande número de pessoas utilizando automóveis, já que até as pequenas cidades desta região tem um sistema de transporte público bastante desenvolvido, como em Pornic, por exemplo. As estações de trem e os vagões utilizados nestes locais parecem muito mais modernos do que aqueles que circulam nas grandes cidades brasileiras, como São Paulo. Os pontos de ônibus também são muito funcionais, assim como as calçadas e uma série de aparelhos públicos, à disposição dos usuários, como banheiros, áreas de descanso e bebedouros. Em boa parte das estações de trem, principalmente nas cidades maiores, como La Rochelle, existem sistemas automatizados de compra, emissão e até troca de bilhetes.
A viagem torna-se ainda mais interessante quando somam-se a isso tudo os diversos trechos de ciclovias que cortam parques e áreas de preservação ambiental. Por se tratar de uma região muito quente, especialmente no verão, estes trechos se tornam uma espécie de oásis. No final deste trecho, acampei na baía de Arcachon, o último ponto na costa francesa do Atlântico, antes de cruzar o sul da França em direção ao Mediterrâneo.