Sabe quando você nem acredita no que está vendo? Pois é, essa foi a minha sensação nas Paralimpíadas Rio 2016.
Nem preciso fazer muita força para dizer que a nossa esperada acessibilidade estava linda no Maracanã, no Parque, nas Arenas, no Boulevard Olímpico, mas fora desses locais a acessibilidade já dava sinal de mais ou menos – quando estamos na Zona Sul, perto das praias – ou quase nada, quando estamos na Zona Norte. Onde tem Paralimpíada: tapete vermelho, tudo uma delícia, simplesmente deslizava pelos espaços somente me preocupando em não atropelar as pessoas. Longe delas, mas tendo que passar pelos espaços para chegar até elas, muito sacolejo e ajuda de pessoas para levantar a Julinha (scooter) para entrar no metrô, descer em outra estação porque a que eu precisava estava com elevador quebrado, esperar muitos minutos para abrirem a porta do elevador, “desatolar” a Julinha que caía nos buracos…
Ah, uma coisa que fiquei imensamente feliz foi ver a rampa da Supervia quando peguei o trem para o Engenhão. A rampa é perfeita para acessar o trem porque o vão entre a plataforma e o trem é enorme e geralmente forma um degrau gigante. Ufa, até que enfim. Fiquei até orgulhosa quando vi vários cadeirantes a utilizando… Na ida para o Engenhão deu tudo certo. Entrei e saí do trem com a rampa. Na volta, o acesso ao trem foi com rampa bonitona, mas na saída a rampa não estava lá… Precisei pedir socorro para um moço que passava… Deu certo, mas foi no grito. Então, tirando estes percalços de acessibilidade, a Paralimpíada ficará na minha vida para sempre. Eu espero muito que na minha e na de muita gente que ali estava. Como tinha muita criança, espero que fique por gerações…
Foi incrível ver o meu país com tanta vida neste período. Refiro-me às pessoas com deficiência nas ruas, arenas, parques, praias, restaurantes… Sim, pessoas vivendo suas vidas, apreciando, aplaudindo, aprendendo o tempo todo. Era um clima muito bom, um clima humano, rico em respeito, em inclusão. Em vida. Me senti orgulhosa, caminhava de cabeça erguida, não lembrava o tempo todo das minhas limitações. Senti carinho e respeito nos olhares, vi as crianças me olharem sem que a diferença se destacasse entre nós, vi o mundo ideal. Pra quem tava lá, com certeza, nos verá de jeito novo. Jeito que aprendeu na Paralimpíada 2016. Espero muito que esse tenha sido o nosso maior legado. Valeu!