Voltei. Voltei pra minha família e amigos. Voltei pra minha casa. Voltei pra São Paulo, minha cidade. Voltei pro meu trabalho. Voltei pra minha vida! Admito que ao mesmo tempo que meu coração queria muito voltar, minha cabeça queria ficar por lá naquela vida com qualidade total. Nem sei dizer há quanto tempo não fazia tudo o que eu fiz por lá aqui no Brasil. Antes da progressão da esclerose múltipla na minha vida, vivia pra lá e pra cá com muita facilidade.
Andar pelas ruas, pegar ônibus, metrô, ir às compras sem me preocupar com os corredores e prateleiras, viver de cabeça erguida era uma realidade diária, e somente entendi o valor disto tudo quando deixou de existir. A vida totalmente independente que eu tinha por lá me trouxe mais segurança, mais confiança, mais dignidade, mais determinação, mais vontade de inovar, de sonhar, mais vontade de viver.
Sim, vejo que aqui no Brasil há muita coisa rolando para que tenhamos mais acessibilidade. Porém, vivenciando o dia a dia lá fora, a diferença fica escancarada. Tudo bem que várias leis, projetos e ações existem nos EUA há muito tempo, estão celebrando 25 anos do tratado dos americanos com deficiência. A luta por lá continua, mas é para ampliar e manter o que já existe e não para começar, como aqui no Brasil. De tudo o que eu vi e me encantei, o respeito que se traduz em acesso é a principal diferença. Com ele, tudo funciona.
Tive o privilégio de conhecer profundamente tudo o que as pessoas com deficiência precisam para ter uma vida independente: educação, saúde, transporte, emprego, habitação, cultura, arte, investimento, cidadania e tudo o mais. É muito difícil explicar em palavras, mas é incrível sentir. Tenho certeza que aprendi como se faz e, principalmente, quanto é importante fazer, acompanhar, manter, reforçar e cobrar o que é feito. Volto para o meu país com a esperança de um dia ter uma vida independente. Que bom será sentir também o respeito na minha terra!