A pergunta é pertinente quando trago aqui um ponto para refletirmos juntos e chegarmos a uma resposta. Há algumas semanas vivenciei uma situação que sempre me acompanhou, mas, até então, nunca havia se concretizado.
O fato é claro e objetivo: fui atropelada.
O cenário foi na cidade de São Paulo e em um bairro bem conceituado: os Jardins. Então, por falta de rampa na esquina da Alameda Campinas com a Alameda Jaú, tive que atravessar pela rua nas entradas e saídas dos carros, no meio do quarteirão. Assim que o farol fechou e com a ajuda de um motoqueiro, me “joguei” na rua entre um monte de carros. O primeiro esperou eu passar, o segundo também e, quase chegando do outro lado, o farol abriu e o último carro engatou e me pegou. Fui parar de cara com o portão da garagem do prédio. Não caí, mas a Julinha (scooter) desmontou.
A dona do carro veio ao meu encontro. Pasme: uma médica que estava falando no celular e disse que não me viu! Tá tudo bem comigo, mas fiquei nervosa e assustada. Infelizmente tenho que me “jogar” na rua o tempo inteiro para viver.
Pois é, olha só o estrago que a falta de uma rampa faz!
O mais delicado diante desse fato é que me senti muito agredida pela violência da cidade. Eu vivo assim. Ou melhor, para eu viver, é somente assim. O tempo todo me “jogando” na rua, pedindo ajuda a desconhecidos, implorando por espaço, “gritando” por um direito, enfim, costumo dizer que tenho que ter muita força de vontade para viver. Acredito que este não seja um privilégio meu, mas, para nós que temos alguma deficiência física, visual, auditiva ou intelectual, a briga com a vida tem outro sabor. Às vezes é até muito bem resolvido internamente, mas o olhar de muitos, na maioria das vezes, agride.
Olhando para o meu acidente, vejo quanta coisa errada em uma quadra: falta de rampas, degraus na calçada, pedido de ajuda, médica falando no celular, tempo semafórico insuficiente que nem me possibilitou atravessar… Enfim, tem tudo para fazer com que eu fique dentro de casa… Mas quero e devo viver. Já estamos legislados que os nossos direitos são iguais, mas sabemos que na prática não é bem assim. Falta muito e, enquanto corro atrás para transformar os nossos direitos de legislados a executados e fiscalizados, vejo que se os órgãos públicos trabalhassem direito, se o nosso povo, principalmente os que se dizem estudados e qualificados, fizessem a sua parte e não se violentassem o tempo inteiro, como, por exemplo, não falassem ao celular enquanto dirigem, a minha vida correria muito menos riscos. Vale refletir e me ajudar com a resposta?