Os três projetos vencedores do Prêmio Cidade Caminhável deste ano merecem destaque por saírem das centralidades do imaginário popular de áreas caminháveis e desenvolverem soluções para contextos mais desafiadores, menos caminháveis e mais vulnerabilizados no ambiente urbano. Além disso, abraçaram perspectivas de gênero e infância, tornando-se verdadeiros modelos de desenvolvimento urbano inclusivo.
Fechamos esta série de apresentação dos projetos com Fortaleza, vencedora na categoria Cidades Grandes com o “Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento” (Proinfra). A iniciativa construiu ruas compartilhadas com pisos mais amigáveis em territórios marginalizados, desenvolvendo o caminhar com dignidade e contratando a população local.
Nos textos anteriores, apresentamos os projetos “Plano de Bairro Novo Horizonte e Região”, de Jundiaí, São Paulo, vencedor na categoria de Cidades Médias; e “Rua da Gente”, de Benevides, Pará, vencedor na categoria de Cidades Pequenas. O primeiro, além de promover a caminhabilidade em bairros periféricos, envolveu ativamente as crianças na sua concepção, integrando a natureza e projetos comunitários (se você ainda não leu, clique aqui para conferir). Já o segundo transformou estradas que cortam a cidade em pontos de encontro e expandiu programas de ressignificação das ruas para todas as regiões (se você ainda não leu, clique aqui para conferir).
O “Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento de Fortaleza” (Proinfra) chama a atenção, primeiramente, pela grande escala do projeto que, de acordo com o Secretário de Infraestrutura, Samuel Dias, é o maior da história da cidade de Fortaleza e tem como objetivo pavimentar mais de 1.100 ruas. No entanto, também é importante destacar o foco em áreas marginalizadas da cidade e a priorização de comunidades e populações vulnerabilizadas que, historicamente, pelo desenvolvimento das metrópoles e especulação imobiliária, precisam habitar locais sem infraestrutura e distantes do centro.
O projeto teve como ponto principal construir infraestrutura básica de saneamento, e a partir disso, com as obras, uniu-se à pavimentação com melhorias de caminhabilidade e uso de espaço público. Outro grande diferencial foi a sustentabilidade. O piso colocado, por exemplo, foi de concreto intertravado, que gera menos consumo energético, é reaproveitável e tem filtragem de água no terreno, e ainda induz velocidades mais baixas, sendo muito melhor do que asfalto. Outro destaque do Proinfra foi não ter somente participação ativa da comunidade, mas também a contratação de mão de obra local, o que gera renda e garante que as mudanças sejam mais bem recebidas e aceitas.
Além disso, durante a realização do projeto, houve preocupação em não desalojar as pessoas do local — o que muitas vezes é feito em projetos urbanísticos e causa isolamento social, perda de identidade cultural, interrupção de estudos, entre outros problemas.
O Proinfra merece destaque por sua combinação de inclusão, sustentabilidade e foco em populações periféricas. Isso porque o projeto viabiliza e promove a melhoria das condições de caminhabilidade da população local, contemplando, sobretudo, crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com deficiência. Acreditamos que, para reverter o contexto de injustiça produzida pela urbanização carrocêntrica, é preciso priorizar os territórios e pessoas mais afetadas, ou seja, crianças e mulheres, pessoas negras e periféricas.
O Prêmio Cidade Caminhável, realizado a cada dois anos pelo Instituto Caminhabilidade, tem como objetivo identificar e reconhecer projetos feitos pelo poder público em cidades brasileiras de todos os tamanhos que tenham melhorado o deslocamento a pé. Mais do que isso, busca reconhecer iniciativas que tenham deixado as ruas mais acessíveis, democráticas, seguras, saudáveis, sustentáveis e acolhedoras para todas as pessoas — independente de idade, gênero, raça, renda, credo, origem e condições físicas, mentais e emocionais. Confira todas as inscritas no site do Prêmio e fique ligada para acompanhar a próxima edição!