Eu tentei MUITO não falar desse texto, porque quando sai algo assim tão gritante que vai contra a corrente (a nossa corrente), bomba de criticas no facebook, formadores de opinião fazem seus comentários, muito pertinentes, e não me parece necessário falar mais do mesmo.
Para quem ainda não sabe do que estou falando, no dia 10 de outubro saiu no editorial do Estadão um texto chamado “A demagogia da Mobilidade Urbana”, que se dedicava a criticar a política de corredores de ônibus, como algo apenas “ganha-voto” e tratava os motoristas de carros como coitados abandonados pelo poder público.
Apenas um trecho, para conhecimento: “Os donos dos 7 milhões de veículos da capital parecem não ter importância. Eles seriam apenas pessoas egoístas que rejeitam o transporte público. É como se não tivessem compromissos diários, serviços a prestar e nenhuma relevância para a vida econômica e social da cidade.”
Eu não quero me estender nas críticas, mas apenas esse trecho já é incrivelmente falho, pois eu sou uma das donas dos 7 milhões de automóveis na capital, mas que prefiro o meu bem-estar e o bem-estar da minha cidade, e uso meu veículo uma vez por mês quando muito, para transporte de carga (quem faz atividades no espaço público sabe o que às vezes carregamos) ou viajar. USO CONSCIENTE.
Além disso, ao dizer que parece que os motoristas de TRANSPORTE MOTORIZADO INDIVIDUAL “não têm importância” para o poder público, me dá até calafrios. Pois é claro e evidente que foram o foco e os grandes beneficiados nos investimentos públicos nas vias e planejamento da cidade nos últimos 60 anos, e não é à toa que chegamos ao caos que estamos nas vias carroçáveis (lembrem-se: as calçadas a pesar de muito malcuidadas estão livres para quem quiser circular e apreciar a cidade).
E para qualquer um que queira se informar, a pesar de os carros parecerem ser predominantes na cidade, pois eles são um mar sem fim, e provocam trânsitos que travam a cidade. Na realidade, segundo a CET, representam apenas 28,4% das viagens diárias. Ficando atrás dos deslocamentos a pé, que não recebem quase que nenhum investimento público, e que todo motorista quando estaciona também faz uso.
Mas enfim, como disse anteriormente, não quero falar mais do mesmo, por isso vou recomendar duas respostas que faço “suas palavras minhas”:
O que eu queria falar é o que esse texto representa para mim, e para os muitos outros que estamos diariamente promovendo o acesso a cidade e nos deslocando de forma consciente.
Um dos grandes problemas do texto, na minha opinião, foi ter saído no EDITORIAL. Para quem não sabe o editorial é a parte do jornal que publica textos que expressam a visão geral da empresa, e por isso não são assinados por nenhuma pessoa, e sim em nome do jornal. Prefiro acreditar que muitos que trabalham no O Estado de São Paulo sentiram vergonha e não partilham dessa filosofia.
Porém eu acredito muito na livre expressão; se alguém pensa assim e quer falar, com essa superficialidade que mais parece uma conversa de bar de alguém que acabou de ficar horas nos trânsito e vomita criticas sem propriedade nenhuma, que fale POR FAVOR, e assine embaixo.
Porque inclusive considero importante ter acesso a todos os tipos de opinião, pois assim conseguimos relembrar, ou nos inteirarmos, que existem muitos que estão de acordo com alguns trechos do editorial e então: o que isso representa?
Falta de informação? Falta de amor próprio? Vício? Hábito? Rebeldia? Status?
Pois para mim quem dirige um carro sozinho em São Paulo para distâncias curtas está próximo a quem insiste em fumar em pleno século XXI, que mesmo já tendo acesso a todas as informações sobre os malefícios que provoca continua fumando.
E se entendermos O POR QUE de as pessoas insistirem em ir de carro de forma inconsciente poderemos então rever a maneira que tem sido comunicado e entendido pela população em geral que o modelo de planejamento urbano e hábitos que construímos até hoje não funcionou. E mais que isso estimular a que cada um pense o que pode fazer no seu âmbito e universo para garantir uma convivência mais harmoniosa e sustentável nas cidades, como por exemplo: se deslocar de maneira mais consciente.
Porém como infelizmente se constata muitas vezes é que além de comunicar e informar é preciso tomar algumas medidas, seja por forma de lei, planejamento e ações, para conseguir realmente virar o jogo.
Quem sabe não teremos que fazer como foi feito com o cigarro (com o fumar): medidas para dificultar para quem ainda mantém esse vício, para tentar pelo menos prejudicar os outros o mínimo possível? Pedágio urbano? Gasolina sem subsídios? Proibição de circulação?