Quando você passa por uma rua de terra, o que você pensa?
“Que lugar atrasado, que fim de mundo”… ou “que lindo, que cheiro bom!”
Cada vez que eu vejo uma rua/estrada começo a ter pensamentos muito ambíguos:
Esta rua é natural e autêntica OU atrasada?
Ser de terra faz com que esteja preservando o local OU dificultando o acesso?
Então o governo ainda não chegou aqui. “Que incompetentes” OU “que bom”?
O trânsito é mais seguro porque as pessoas vão mais devagar OU mais inseguro porque é irregular?
Que horror que não tem calçadas para caminhar OU que legal não limitar para o pedestre um espaço específico?
Asfaltar está diretamente relacionado a urbanização, a criação de infraestrutura, a organização, a avanço, a garantia à acessibilidade, a encurtamento de distâncias, e à facilidade de conhecimento e de mapeamento.
Mas não asfaltar e deixar com a vegetação natural significa manter o lugar mais tranquilo e original, não destruir, preservar a conexão com a natureza, se preocupar com a qualidade de vida e saúde.
E então vem a dúvida: queremos chegar aos lugares e garantir acesso a todos, ou respirar um ar mais puro e não destruir a natureza?
Afinal, O QUE É MELHOR PARA TODOS?
Bom, acho que a primeira coisa é tirar os OUs das perguntas e substituir por E, AO MESMO TEMPO, TAMBÉM. A rua pode muito bem ser natural e atrasada, ao mesmo tempo.
Não precisam ser conceitos considerados antagônicos; as características podem e devem ser complementares. E assim podem ser definidos os bairros, cidades, países e até mesmo pessoas. (Afinal não somos bons OU ruins)
As cidade, assim como nós, geração jovem insatisfeita e que tudo quer, está sofrendo uma crise de identidade.
Antes não se tinha dúvida: era preciso asfaltar para progredir. E, outra vez, muita gente tende a não ter dúvida: é preciso resgatar a natureza.
Eu particularmente sempre tenho minhas dúvidas sobre a falta de dúvidas.
E se deixarmos de ter tanta certeza, e aceitarmos as dúvidas como espaço de reflexão e possibilidade de gerar planejamentos mais equilibrados? Poderemos encontrar o meio do caminho?
Por exemplo, em São Paulo existe um grupo de pessoas claramente favorável à transformação do Minhocão em um parque e extinguir sua função como via para transportes motorizados; e um grupo que claramente pensa que isso é inviável para a cidade.
Cadê o grupo que não sabe nada claramente, mas pensa em opinar que poderia ser um parque também com vias para bondes?
Ou que poderiam ser criadas soluções acústicas e destinar o espaço embaixo do viaduto para uso criativo?
Os moderados, justamente por serem moderados, não chamam a atenção e assim as decisões sensatas parecem não existir; apenas os radicais reivindicam ou parecem “saber o que querem”.
Será que teremos que asfaltar tudo para depois plantar em cima?
Ou será que plantaremos em tudo até perceber que deixamos de garantir acesso a todas as pessoas?
Viveremos ciclos que ROMPEM o conceito anterior, e são então revolucionários até quando?
Quando poderemos começar a conciliar e encontrar soluções, sem ser de oposição?
Afinal buscamos uma cidade sustentável, quer dizer, que seja vivível pelos muitos próximos anos e que seja cada vez mais agradável e acessível!
Então para mim a pergunta que temos que responder para qualquer plano da cidade é: DÁ PARA IR A PÉ – independente da condição física? (em outras palavras: garante acesso universal?)
Alguns links: