A forma da sua cidade incentiva deslocamentos ativos?
Você já parou para pensar em como você poderia incorporar atividades físicas no seu dia-a-dia? E se a rua fosse sua esteira? E se sua aula de spinning fosse ao ar livre? Em comemoração à Semana da Mobilidade, te convidamos a repensar seus meios de locomoção na cidade e a descobrir o que há por trás de um estilo de vida mais ativo.
A crise da mobilidade urbana nos faz repensar os modais de transporte: avaliamos eficiência, medindo tempos de trajetos, poluição gerada, a infraestrutura necessária, custos de implantação e operação e os impactos na saúde dos usuários. Hoje, governos fazem grandes investimentos em novas infraestruturas que permitem que populações equivalentes a cidades inteiras percorram longas distâncias, todos os dias.
No entanto, raramente refletimos sobre a forma da cidade, as distâncias a serem percorridas, o desenho das ruas: afinal, que meio de deslocamento é encorajado nas cidades em que vivemos e nas cidades que estamos projetando? Por que não somos incentivados a adotar outros meios de locomoção? Será que a nossa mobilidade nas cidades está somente relacionada à infraestrutura de transporte?
As ruas nasceram muito antes dos automóveis, elas eram “das pessoas”. Após quase 100 anos com todos os olhares voltados para eles, os carros passaram de solução a problema e chegaram ao século 21 com pinta de vilão: a ênfase no transporte individual motorizado nos levou a uma crise de mobilidade urbana que afeta não só os tempos de deslocamento, mas também a saúde física e mental das pessoas, seja pelo estresse, sedentarismo, ou pela poluição gerada pela queima de combustíveis fósseis.
A nossa dependência em relação aos veículos motorizados aumentou exponencialmente a partir das possibilidades urbanísticas que essa nova tecnologia trouxe: as cidades podiam se expandir infinitamente em direção às periferias, para zonas distantes do trabalho, da escola, dos serviços. Ao mesmo tempo, o urbanismo moderno trouxe como paradigma a redução das densidades populacionais e a setorização dos usos da cidade. O resultado? Cidades “espalhadas” em vastos territórios, que consomem zonas ambientalmente sensíveis, segregam populações e funções das cidades, criando zonas-dormitório e centros comerciais inóspitos durante as noites.
Ora, como podemos construir sistemas de transporte público eficientes se as distâncias a serem percorridas são imensas, ou se temos que preencher um enorme território com uma malha coesa, interligada? Como caminhar até o trabalho que está a mais de 20km de distância? Como pedalar para a escola se as vias expressas, que permitem o fluxo rápido de carros e ônibus, inibem a nossa presença?
Estas perguntas nos levam a rever o conceito : mobilidade é, afinal, muito mais do que sistemas de transporte. Conseguir se locomover com facilidade nos centros urbanos também é questão de planejamento e forma urbana. Para construir cidades mais transitáveis, que são também mais saudáveis, democráticas, eficientes e ambientalmente responsáveis, podemos aderir a algumas estratégias:
+SISTEMAS INTEGRADOS: ruas completas (do termo “complete streets”, em inglês) são aquelas que preveem infraestrutura para transporte público, automóveis, bicicletas e pedestres, priorizando a coexistência dos modais em uma mesma via com segurança. Além disso, a intermodalidade encoraja passageiros a combinarem modais distintos ao longo de um trajeto: permitir bicicletas em ônibus, por exemplo, incentiva trajetos ativos até as paradas; incluir garagens nas estações de trem e metrô podem fazer com que um trajeto 100% realizado por um automóvel possa ser em parte realizado por transporte público.
+FORMA DOS CAMINHOS: o desenho das ruas, a dimensão de calçadas, ciclovias ou faixas de tráfego, também influenciam diretamente na nossa escolha por um modal. Quem se sente confortável caminhando em uma calçada de 1,50m ao longo de uma via expressa, em que as faixas, largas, incentivam o aumento de velocidade por parte dos automóveis? Ou como caminhar por um bairro em que as quadras são muito longas, as faixas de pedestre muito distantes, e os tempos de travessia muito curtos? Redesenhar a geometria das vias existentes a favor da acessibilidade e segurança viária é primordial para garantir que usuários possam optar por diferentes maneiras de se locomover.
+INFRAESTRUTURA COMPLEMENTAR: toda infraestrutura de mobilidade deve vir acompanhada de outros elementos que complementem o papel de cada modal como, por exemplo, bicicletários e vestiários no trabalho, ou ainda pontos de ônibus com informações sobre linhas e horários. As calçadas também podem ser projetadas de maneira a qualificar a experiência do pedestre, incorporando bancos para descansar, sombras para os dias quentes ou chuvosos, ou iluminação à noite.
+CIDADES COMPACTAS: De onde viemos e para aonde vamos? Uma cidade compacta tem maior densidade populacional (as pessoas vivem mais próximas umas das outras) e maior mistura dos usos do solo, o que permite que você tenha acesso a diversos equipamentos como escola, supermercados e áreas de lazer em um espaço reduzido. Aproximando destinos, longos deslocamentos podem ser substituídos por trajetos de curta distância no nosso dia-a-dia, incentivando mobilidade ativa. Além disso, investimentos em transporte público são otimizados, já que linhas de ônibus ou metrô podem ser mais curtas, reduzindo custos de implantação, manutenção e operação.
Agora pare e pense no seu deslocamento diário. Aproveite o Dia Mundial Sem Carro e avalie suas escolhas: quais trajetos que você realiza poderiam ser substituídos por outro modal? Teste alternativas – comparando tempos e sensações, quais aspectos te agradaram e quais desafios você encontrou – e compartilhe os resultados!