por Cidade Ativa e Maria Lima
Estima-se que em 2025 o Brasil terá a sexta maior população de idosos do mundo. E devemos levar em conta essa projeção para repensar nossas cidades, considerando o processo de envelhecimento como fator que leva a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao seu ambiente. Como já sabemos, o declínio da função da pessoa idosa tende aumentar com o tempo. Como nossas cidades podem, então, incentivar as pessoas a permanecerem independentes e ativas à medida que envelhecem?
Diante deste cenário de crescimento da população idosa, faz-se necessário estudar, discutir e planejar ações que visam o reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e dos princípios de autonomia, independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização. Segundo Maria Lima, fisioterapeuta e especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, “é preciso desfazer as percepções estereotipadas sobre o envelhecimento, pois limitam os pensamentos e propostas para desenvolver ações voltadas para atender o público idoso, tanto no âmbito coletivo ou individual”.
Com o objetivo de ampliar a percepção sobre as questões relativas ao envelhecimento, a Unidade de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um documento sobre a política do Envelhecimento Ativo para embasar a formulação de políticas mais efetivas voltadas à população idosa. Aplicado tanto a nível individual quanto a grupos populacionais, o Envelhecimento Ativo busca melhorar a qualidade de vida à medida que se envelhece, aumentando a expectativa de uma vida saudável.
Programas e ações baseados no Envelhecimento Ativo precisam promover tanto a melhoria da saúde mental e relações sociais, como também as condições físicas e de saúde para manter a autonomia e independência das pessoas que envelhecem. Com uma abordagem baseada em direitos, o reconhecimento dos mais velhos à igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida deve considerar uma população idosa ativa. Para isso, nossas cidades devem oferecer todas as condições necessárias para que o envelhecimento não seja um empecilho ao desenvolvimento de atividade física ou à participação contínua nas atividades sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, inclusive entre pessoas mais frágeis, fisicamente incapacitadas ou que requerem cuidados.
A experiência positiva de envelhecimento na cidade deve permitir a participação das pessoas na sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades, propiciando proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários. Engajar a sociedade para a causa do envelhecimento ativo e incentivar crianças, jovens e idosos a se manterem participativos na sociedade é essencial para a construção de cidades mais ativas.
Um estudo realizado nos Estados Unidos pelo Centro de Estudos do Alzheimer da Kansa’s University revela, ainda, outros aspectos da relação entre o ambiente construído das cidades e envelhecimento. Relacionando o potencial de “caminhabilidade” com a melhora na cognição e o rejuvenescimento da mente, o estudo verificou que os idosos que viviam em regiões da cidade com mais densidade, conexões entre ruas e opções de destinos para chegar a pé se saiam melhor nos testes cognitivos e estavam menos propensos às formas mais agudas de demência. Isso significa que, além dos benefícios relacionados à saúde física da população idosa, envelhecer ativamente também contribui positivamente para a memória.
Políticas e ações que englobem a política do envelhecimento ativo e o desenho urbano que possibilite envelhecer ativamente na cidade devem ser prioridades. Uma cidade adaptada para as pessoas mais velhas é um ambiente comunitário integrador e acessível que otimiza as oportunidades de saúde, participação e segurança para todas as pessoas, a fim de melhorar a qualidade de vida e a dignidade a medida que as pessoas envelhecem.