Caminhar, passear, correr… O deslocamento a pé está presente no nosso dia a dia de diversas formas. A qualquer momento, andamos para nos deslocar de um lugar a outro, para encontrar algo ou alguém, para refletir… Caminhamos com os pés, com auxílio de uma bengala, muleta, ou em uma cadeira de rodas.
Na maioria das vezes, não prestamos atenção no nosso caminhar: como andamos? Estamos com pressa, andando rumo ao trabalho ou escola? Ou apenas passeando? Nos exercitando? Temos consciência do percurso que fazemos, e dos obstáculos existentes nas calçadas, ou estamos prestando atenção ao celular?
Em comemoração ao nosso 10o post aqui no Blog Cidade Ativa, vamos falar das 10 diferentes maneiras de caminhar que elencamos até agora. Quantas mais existem?
O que chamamos aqui de “rumar” é o caminhar com um destino definido. Normalmente quando estamos rumando não prestamos atenção na cidade e nos acontecimentos ao nosso redor. Nosso foco está apenas no local onde devemos chegar e no caminho que precisamos percorrer.
Com um propósito claro e pontos de partida e chegada definidos, alguns exemplos do “rumar” são caminhadas desde e para o metrô ou ponto de ônibus, para o trabalho, escola, ou qualquer outro compromisso.
Aqui, a velocidade do “rumar” pode variar: o caminhante pode escolher ir mais devagar ou mesmo correr, dependendo da rapidez que deseja para o trajeto. O que identifica esse tipo de caminhada é o objetivo: se deslocar de um lugar a outro como finalidade principal.
O “passear” está relacionado ao lazer, quando não há compromissos ou horários a serem cumpridos. Assim, quando passeamos podemos admirar a paisagem, as pessoas, os acontecimentos e aguçam-se as percepções e sentidos. Aqui, a maneira de caminhar pode ter um destino definido ou, simplesmente, explorar os diferentes espaços da cidade. É comum que a caminhada seja realizada em dupla, trio, grupo, mas ocorre, também, como atividade individual.
Por se tratar de um tipo muito diverso, o “passear” pode ter algumas variações, e citamos aqui algumas. Podemos passear com motivo compras, por exemplo, como quando vamos a locais essencialmente comerciais. Neste caso, o foco do caminhante está nas vitrines, anúncios de promoções, vendedores ambulantes, entre outros. A principal característica desse estilo é o caminhar lento e contínuo até que seja interrompido por algo atrativo. Podemos, também, passear um animal de estimação ou um bebê, sem destino definido e com pouca interação com o entorno, sendo o objetivo do transeunte, nesse caso, entreter e cuidar do outro e não de si.
As “marchas” são geralmente associadas a manifestações, reivindicações e protestos, apesar da conotação militar do caminhar organizado, uniforme, constante e rítmico dos soldados.
Dada por um grupo de pessoas unidas com o intuito de reivindicar algo, a marcha possui origem e destino definidos, geralmente associados ao protesto em questão e com grande representatividade para a população.
Uma característica marcante dessa maneira de caminhar é a união de pessoas em um só grupo, em uma só massa, ocupando, principalmente, o leito carroçável. Carregado de significado, esse caminhar promove uma fala comum dessa massa, traduzida em cartazes, músicas, gritos e que, ao ocupar os espaços públicos da cidade, quer se fazer ser ouvida.
As procissões são uma forma de caminhar em grupo formal e cerimonial e, muitas vezes, acontecem sob a forma de cortejo religioso pelas ruas, nas quais as pessoas carregam imagens e entoam orações ou cânticos. Segundo a crença, este ritual abençoa aqueles que participam da caminhada e, por isso, carrega grande valor simbólico.
Trata-se de uma maneira de caminhar lenta e introspectiva, com pouca ou quase nenhuma relação com entorno, principalmente porque se dá no leito carroçável e não nas calçadas. Com um caminho previamente definido, as procissões definem origens e destinos simbólicos, como templos religiosos e, diversas vezes, passam por pontos turísticos no seu trajeto.
Em geral, as procissões têm data e horário previamente definidos e são, muitas vezes, recorrentes, com periodicidade que pode variar de acordo com o tipo de evento.
Com o propósito de realizar uma atividade física, os caminhantes que optam pelo “se exercitar” buscam o prazer da prática em prol da saúde física ou mental. Andando ou correndo, essa maneira de caminhar também é muito utilizada para ajudar a pensar, considerada como uma meditação ativa.
Trata-se de uma atividade que pode ter um destino definido, em direção a um parque ou uma praça, por exemplo, ou simplesmente ser um trajeto avaliado como adequado para se exercitar, sendo sua relação com o entorno e com a infraestrutura da calçada relevante para o caminhante. Além disso, pode ser realizada individualmente ou em grupo, com caráter social ou introspectivo. Apesar das diversas possibilidades, o que identifica essa maneira de caminhar é o seu objetivo: a busca pela atividade física, com saúde e bem-estar associados.
O “flanar” é uma maneira de caminhar bastante peculiar na qual o caminhante vaga pelas ruas sem rumo, pelo prazer de apreciar o que está à sua volta. Com grande relação com seu entorno, o “flanêur” possui um caminhar lento e sem pressa, mantendo uma velocidade que o permita absorver todos os acontecimentos.
Muitas vezes o “flanar” ou, ainda, o “perambular”, está associado a um momento de reflexão, sendo escolhido também por aqueles que buscam colocar suas ideias e pensamentos em ordem. Nesse caso, o “flanar” torna-se mais introspectivo mas, ainda assim, atento às oportunidades, aos detalhes que poderiam passar despercebidos, que aparecem pelo caminho. Como se a cidade pudesse trazer as respostas às indagações do caminhante.
Por isso, este modo de caminhar é tido também como uma maneira diferente de explorar um local desconhecido. Sem rumo certo, o “flanêur”, andando à deriva, se deixa levar por sugestões que o caminho lhe faz: virar a direita para bisbilhotar um beco, ou parar para tomar um café em uma lanchonete escondida, passar por uma praça onde acontece uma partida de damas…
Geralmente praticado por crianças, o “brincar” é caracterizado como um caminhar sem preocupações, no qual o foco está direcionado à diversão do caminhante. Exemplos clássicos do “brincar” são saltitar entre as diferentes cores de piso ou traçar um caminho que segue um padrão de pavimento. O importante, nesse caso, é usar a imaginação e fazer do caminhar uma atividade de desfrute.
Trata-se de um caminhar infantil, orgânico, sinuoso, sem direção, apesar de, muitas vezes, estar acompanhado de um caminhante que “ruma” ou “passeia”. Aqui, o caminhante presta atenção no seu entorno, buscando identificar qualquer elemento que possa fazer parte da sua brincadeira.
Essa maneira ocorre, principalmente, em locais onde as condições inadequadas do passeio obrigam o pedestre, independente das suas capacidades, a adotar o “caminhar cauteloso”. É, também, utilizado com mais frequência por pessoas com mobilidade reduzida, como idosos, pessoas em cadeira de rodas ou muletas.
Com foco nos obstáculos e adversidades existentes no trajeto, trata-se de um andar muito lento e cuidadoso que, normalmente, não permite nenhum desfrute para o caminhante. A relação com o entorno é caracterizada pela atenção que o caminhante faz do estado e acessibilidade dos passeios no seu trajeto.
Esse caminhar, cada vez mais comum, é caracterizado pela quase completa falta de atenção do pedestre em seu trajeto. Com foco voltado para outra atividade em seu celular, o caminhar e os acontecimentos do entorno ficam em segundo plano.
Geralmente realizada individualmente, o caminhar “mexendo no celular” é associado à vulnerabilidade do caminhante, que fica mais sujeito às adversidades. Em alguns casos, a conexão com o celular é tão intensa que pode-se errar o caminho, trombar com outro caminhante ou, até mesmo, se acidentar.
Muito frequente em áreas comerciais da cidade, o caminhar pode vir associado à venda de produtos ou serviços. Aqui, o andar tem como objetivo alcançar e abordar outros caminhantes, sendo o trajeto curto e repetido, com foco nas pessoas e não no entorno.
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Apesar de identificadas e apresentadas separadamente, as diferentes maneiras de caminhar podem se misturar em um mesmo trajeto: há quem escolha rumar se exercitando ou quem passeie mexendo no celular, por exemplo, trazendo ainda mais complexidade e riqueza para o caminhar.
Você já parou para pensar em como caminha no dia-a-dia? De que maneira anda pela cidade com mais frequência – gosta mais de passear ou, devido às tarefas do cotidiano, anda mais com pressa? Ajude-nos a completar essa lista trazendo outras formas de se deslocar a pé que você conhece ou identificou pelas ruas da sua cidade!