Texto e fotos: Uirá Lourenço
W3 moderna: VLT e espaço para pedestres e ciclistas. Imagem: Mobilize.
Sim, outra W3 é possível, com base na tendência atual de priorizar o transporte coletivo e os modos ativos (não motorizados) de transporte. No texto anterior sobre a W3 fiz um diagnóstico ilustrado da realidade ao longo da avenida. Em síntese: muitas crateras e carros no caminho, travessias arriscadas e usuários de ônibus em condições humilhantes (superlotação, escuridão nos pontos e ausência de informações sobre as linhas). Aos motoristas: mais pistas, túneis e viadutos, graças às obras do TTN (Trevo de Triagem Norte, também conhecido como Terrível Trevo Norte).
Por que não investir numa W3 acessível e que sirva de exemplo de mobilidade sustentável, em vez de desperdiçar recursos em mais obras de incentivo ao transporte automotivo (construção de túneis e viadutos)?
A tendência moderna na mobilidade é investir no transporte coletivo, restringir o uso do carro e incentivar os deslocamentos a pé e por bicicleta. A Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal n° 12.587/2012) reflete essa tendência e estabelece como diretriz a prioridade dos modos coletivos e ativos de transporte. Mas na prática o Distrito Federal ainda precisa avançar muito para pôr em prática a política nacional e várias leis distritais que tratam da mobilidade sustentável (clique para ver as leis sobre mobilidade).
As cidades modernas, especialmente algumas capitais europeias, reverteram o modelo voltado ao automóvel há algumas décadas e hoje colhem os frutos do planejamento com foco na mobilidade e na segurança do trânsito. Amsterdã (Holanda), Copenhague (Dinamarca) e Paris (França) são exemplos em mobilidade e qualidade de vida. O que se destaca na paisagem urbana são VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), ônibus silenciosos e muitas pessoas caminhando e pedalando para ir ao trabalho ou à escola.
Muitas bicicletas e transporte coletivo de boa qualidade: cenas de Amsterdã (esquerda) e Paris (direita).
Observam-se outras medidas importantes nas capitais europeias: baixo limite de velocidade (zonas 30), que permite o bom compartilhamento entre pedestres, ciclistas e motoristas; restrição aos carros na área central (em vez de pistas e estacionamentos, praças, bibliotecas e comércio); cobrança pelo estacionamento nas vagas públicas (zona azul), que desestimula o uso do carro e ainda garante recursos financeiros para a mobilidade.
A W3 Norte tem plenas condições de se tornar uma avenida exemplar em mobilidade: possui fluxo significativo de pessoas que caminham e usam o transporte coletivo, e tem um canteiro arborizado propício para caminhadas e uso de bicicleta como transporte e lazer. Jan Gehl, arquiteto dinamarquês e autor do livro Cidades para Pessoas, comenta os benefícios da cidade humanizada: “um maior número de vias convida ao tráfego de automóveis. Melhores condições para os ciclistas convidam mais pessoas a pedalar, mas ao melhorar as condições para os pedestres, não só reforçamos a circulação a pé, mas também – e mais importante – reforçamos a vida na cidade”.
Um passo importante na W3 humanizada é a redistribuição justa do espaço viário: transferir espaço dos carros para o transporte coletivo e para pedestres e ciclistas. A grande dependência do transporte automotivo (no DF, a participação do transporte individual motorizado chega a 45% dos deslocamentos) traz muitos impactos negativos: grande área ocupada por pistas e estacionamentos, alta emissão de poluentes, ineficiência no transporte e congestionamentos. Em todo o Distrito Federal é fácil perceber a péssima distribuição do espaço viário: existem poucos corredores e faixas exclusivas de ônibus e a maior parte da área é ocupada pelos carros. Eixo Monumental e Eixão ilustram bem a péssima distribuição do espaço.
Eixo Monumental e Eixão: excesso de carros e falta de prioridade ao transporte coletivo.
Ao observar uma avenida em Amsterdã, percebe-se a distribuição equitativa do espaço.
Avenida em Amsterdã: VLT e espaço seguro para pedestres e ciclistas.
Na W3 moderna e acessível – representada nas duas simulações feitas pelo portal Mobilize (no início e o final do texto) – uma das pistas é destinada ao VLT e há espaço seguro e confortável para pedestres e ciclistas. Os canteiros ao longo da avenida abrigariam espaços de convivência, convidativos às pessoas: com praças, equipamentos de ginástica e espaços de leitura. O limite de velocidade seria reduzido para 50 km/h e, próximo de escolas e pontos de ônibus, o limite seria de 40 km/h, com placas aos motoristas sobre a preferência do pedestre.
W3 acessível: espaço sombreado para pedestres e ciclistas. Imagem: Mobilize.
VÍDEOS:
– Conversa sobre mobilidade: a troca do carro pelo transporte coletivo
– Bicicletas em Copenhague, Dinamarca
– Imobilidade e rodoviarismo no norte do DF
Fotos da avenida revelam a situação atual.