Texto e fotos: Uirá Lourenço
Campanha do Dia Mundial sem Carro na CLDF. Foto: Adriano Gusso.
No texto anterior fiz uma análise sobre a possibilidade de Brasília com menos carros, considerando os dados que revelam a grande dependência do automóvel. Observo a cidade e percebo o potencial de impulsionar outras formas de transporte. No Dia Mundial sem Carro deste ano percorri uma distância razoável de forma multimodal: a pé, de bicicleta, ônibus e metrô. Foram 56 km em diferentes locais: Asa Norte, Asa Sul, Eixo Monumental, Guará, EPIA e EPTG.
Aproveito para relatar a experiência. Os trajetos de bicicleta foram tranquilos – boa parte por ciclovias – e fiz até Bike Uber com a amiga Vanessa, na bike grandona de 3 lugares. O trajeto entre a rodoviária do Plano Piloto e a Câmara Legislativa (CLDF) foi muito mais legal com a companhia dos colegas que aderiram ao Dia sem Carro. O clima ameno e o colorido das flores (incluindo ipês e jacarandás) ajudaram no pedal pela manhã.
Trajeto agradável: ciclovia do Eixo Monumental e paisagem florida.
No trajeto curto da rodoviária até a sede do Banco do Brasil, onde ocorrem ações da Semana da Mobilidade, a falta de sinalização e infraestrutura para pedestres e ciclistas chama atenção. A calçada curiosamente termina de repente. Outro ponto que destaco é a travessia do Eixão: sempre desafiador quando se está a pé ou de bicicleta. Costumo atravessar pelas tesourinhas, para evitar as passagens subterrâneas sombrias, mas o espaço estreito e a velocidade dos motoristas causam certa aflição. Sou ciclista calejado e sigo de boa. Coloco-me no lugar de um ciclista iniciante e imagino qual seria a sensação.
À tarde fiz trajeto da Asa Norte até o Guará. Para não ter que aguardar muito tempo, em vez de esperar a linha que levaria direto até o Guará, peguei um ônibus até o Park Shopping e depois peguei metrô. Com meu Bilhete Único fiz a integração pagando só uma tarifa (R$ 5,50). Certamente a corrida de uber sairia mais cara e seria mais entediante. Uma pena que os pontos de ônibus lotados e enlameados (teve chuva forte) não sejam convidativos.
Ônibus e metrô no trajeto até o Guará.
O trecho curto de metrô (da estação Shopping até a Feira) foi tranquilo. Chegou rápido e ainda não estava lotado. Mas a tela que mostra o horário dos trens em tempo real estava com defeito. Depois fiz um trajeto a pé pelo Guará (cerca de 3 km). Foi bem agradável a caminhada por dentro das quadras, com casas, prédios e comércio misturados. O ponto negativo fica para os trechos inacessíveis, com desníveis e carros bloqueando o caminho. Felizmente não tenho limitação física.
Trajeto a pé pelo Guará. Foto na saída da estação Feira.
Na última etapa do multimodal fui de bicicleta do Guará até a Asa Norte. Fiz o trajeto pela EPTG (‘Linha Verde’) à noite. No caminho pela ciclovia passei por outros ciclistas com capa de chuva e por um usuário de patinete (modelo sem bateria). Puxei conversa e ele comentou que curtia muito e podia facilmente dobrar o patinete e entrar no ônibus. Que bom exemplo de mobilidade ativa e integrada!
EPTG com muitos carros: foto na passarela.
Relembrei os velhos tempos em que pedalava de Águas Claras até a área central de Brasília. E o costume falou mais alto: parei no alto da passarela para observar o fluxo de veículos e refletir sobre a cidade. Ao ver a EPTG toda pontilhada de faróis, fiquei em dúvida: era pra ser Dia Mundial sem Carro ou Dia com Mais Carros?!
VÍDEOS
Dois vídeos do Dia Mundial sem Carro. No primeiro, o serviço de Bike Uber na bicicleta grandona (tandem tripla). No segundo, a reportagem da TV Brasil que mostra o percurso da nossa família – trajeto para o trabalho e para a escola.