Brasilia Para Pessoas

17
fevereiro
Publicado por Brasília no dia 17 de fevereiro de 2016

Texto e fotos: Uirá Lourenço

 

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Neste ano que termina nada se viu de mudança na mobilidade em Brasília. Na verdade o que se viu foi o avanço da imobilidade, decorrente do aumento da frota motorizada, da falta de ações efetivas de melhorias nos modos coletivos e saudáveis de transporte e do desrespeito no trânsito.

 

O transporte coletivo ficou ainda mais caro, sem qualquer ganho em conforto e segurança. O bilhete único ainda é apenas uma promessa distante de campanha. As queixas dos usuários de ônibus enchem as seções de leitores dos jornais e as redes sociais, como se pode ver na seção “Queixas da Imobilidade” deste blog. A A EPTG (“Linha Verde”), símbolo maior da imobilidade, continua cinza e caótica. Quem se aventura de ônibus continua aprisionado no engarrafamento, pedestres e ciclistas continuam em risco, expostos à lama e ao intenso fluxo motorizado.

 

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Pontos de ônibus lotados e sem abrigo: desconforto diário no DF

 

O programa do atual governador é recheado de objetivos bem intencionados:

– “Priorizar o transporte não motorizado em relação ao motorizado e o motorizado coletivo em relação ao individual.”,

– “Promover o funcionamento sistêmico do transporte público, com o objetivo de tornar atrativo o transporte coletivo.”,

– “Promover o uso de veículos movidos a combustíveis renováveis e pouco poluentes, como biocombustíveis e veículos elétricos.”,

– “Ampliar o uso de bicicletas para deslocamentos diários casa-trabalho e casa-escola.”

– “Facilitar o uso das calçadas pelos pedestres.”

– “Promover acessibilidade para as pessoas com deficiência ou dificuldades de locomoção.”

 

Como diz a expressão, de boas intenções o inferno está cheio. Não basta o bonito plano assinado, precisa-se de ações efetivas, de vontade política para mudar o atrasado e vergonhoso modelo de transporte. E as obras anunciadas em 2015 confirmam o atraso do governo atual, ao manter o foco na fluidez motorizada, com ampliação de vias e construção de viadutos.

 

Para piorar se mantêm os altos limites de velocidade nas vias. Ao contrário da tendência mundial de humanizar as vias e de reduzir os limites de velocidade (no Brasil, São Paulo vem reduzindo o limite de velocidade há alguns anos), não há programa amplo de redução da velocidade no Distrito Federal, o que compromete ainda mais a insegurança de todos, especialmente de quem caminha e pedala.

 

Projetos rodoviaristas de governos anteriores continuam como prioritários. As imagens de dois projetos mantidos pelo atual governo (ampliação do Eixão Norte e da ponte do Bragueto e construção de túnel em Taguatinga) revelam o viés rodoviarista. Na ilustração não aparece nada além de carros, sequer um ônibus, ciclista ou pedestre.

 

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Projetos rodoviaristas:  ampliação do Eixão Norte e da ponte do Bragueto; construção de túnel em Taguatinga (Imagens: DER-DF)

 

Se o governo anterior quis emplacar a ideia de “Brasília, capital das ciclovias”, este parece querer emplacar a ideia de “Brasília, referência em respeito ao pedestre”. Mas basta uma curta caminhada pelo Plano Piloto para constatar a imobilidade: crateras, bloqueios e ausência de calçadas compõem o cenário sombrio a quem caminha. As pistas para circulação de veículos motorizados costumam estar em bom estado; entretanto, as calçadas, quando existem, estão em estado deplorável.

 

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Crateras e invasão por carros de calçadas na Asa Norte e na Asa Sul

 

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Rampas bloqueadas: desrespeito diário impede a passagem de pedestres

 

A contradição entre a propaganda governamental e a realidade fica evidente na sede do Poder Executivo local. Na reforma da calçada em frente ao Palácio do Buriti, deixou-se uma cratera intransponível a poucos metros da calçada reformada, o que demonstra falta de visão integrada. Falta aos gestores públicos ver a mobilidade de forma ampla, com caminhos contínuos, seguros e confortáveis. Na sede do Poder Legislativo local também impera a inacessibilidade, com calçadas destruídas e rampas diariamente bloqueadas.

 

Noticia_Secretaria Mobilidade_Respeito Pedestre_Referencia Nacional_29-05-2015_2Propaganda do GDF, com foto ao lado do Palácio do Buriti (29/5/2015)

 

DSCN1089_23-06-2015_EixoMonumental_TCDF_Calcada_destruida_Pedestres_Cratera_SELECAO_editFoto no mesmo local do anúncio governamental revela cratera na calçada

 

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Calçada destruída e bloqueio de rampa nos arredores da CLDF

 

Fiquemos atentos em 2016. Se continuarem os projetos e ações rodoviaristas, o governador apenas manterá a visão atrasada dos governos anteriores, contribuindo para saturar de vez as vias e os espaços públicos. Mais canteiros, calçadas e praças serão convertidos em pistas e estacionamentos. E se consolidará a imagem de Brasília composta por cabeça, tronco e rodas (4 rodas).

 

O atual governo pode, por outro lado, reverter o quadro de imobilidade e priorizar efetivamente o transporte coletivo e os modos saudáveis de locomoção (como previsto na política nacional de mobilidade urbana e no programa do governador Rollemberg). Neste caso, deixará uma marca na cidade, um legado. Com planejamento inteligente das obras e ações em mobilidade urbana, priorizando pessoas e segurança no trânsito, em vez de automóveis e fluidez motorizada, caminharemos no rumo da mobilidade sustentável, justa e moderna.

 

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Mais fotos da imobilidade no DF no álbum virtual: https://picasaweb.google.com/112427601743437901602/ImobilidadeDF



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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