Texto e fotos: Uirá Lourenço
Na capital federal, milhares de homens e mulheres andam como ratos (e com os ratos) e correm como atletas nos trajetos diários.
No final da W3 Norte, entre o setor hospitalar e o boulevard shopping, as pessoas enfrentam uma saga diária nos canteiros e nas calçadas destruídas.
Não bastasse a ausência de calçadas, evidenciada pelos inúmeros “caminhos de rato” nos canteiros (caminhos demarcados pela passagem de pedestres), ainda se tem que dividir espaço com lixo e roedores.
Calçadas destruídas e correria para atravessar e chegar vivo ao outro lado.
Neste ponto a calçada está repleta de lixo e de ratos.
Para completar, um dos poucos semáforos em que daria para atravessar com certa segurança leva muito tempo para liberar passagem ou fica desativado, possivelmente para dar maior fluidez motorizada. O vídeo revela o sufoco para atravessar no final da W3 Norte. É necessário vigor físico de atleta!
E o que dizer dos pontos de ônibus? Lotados, escuros, sem acessibilidade e sem informações sobre linhas e horários.
Escuridão e superlotação nos pontos de ônibus do final da W3 Norte.
Superlotação, abandono e inacessibilidade nos pontos de ônibus da região.
– Obras do TTN (“Terrível Trevo Norte”)
A poucos metros de onde as calçadas estão destruídas e largadas aos ratos, avançam as obras do TTN. Muitos tratores devastam canteiros e aterram as margens do lago Paranoá para construir dezenas de túneis e viadutos.
Imagem aérea mostra a devastação causada para construir mais pistas e viadutos.
Fonte: Agência Brasília.
A contradição é óbvia: enquanto pedestres e usuários de ônibus estão em situação de completo abandono e insegurança, a obra milionária vai incentivar ainda mais o transporte automotivo e certamente vai aumentar o nível de insegurança e desconforto dos pedestres, afinal haverá mais pistas e viadutos para atravessar na saga diária.
Os canteiros no final da W3 Norte estão com marcações e árvores pintadas (possivelmente, marcadas para morrer), o que indica que as obras do TTN avançarão nos caminhos traçados pelos pedestres.
Árvores pintadas e canteiros demarcados: avanço das obras do TTN.
Dá para ter noção do nível de insanidade e atraso do modelo de transporte rodoviarista (centrado no rei automóvel) ainda vigente no DF ao constatar a desproporção entre ônibus e carros na ponte do Bragueto. Todo dia, milhares de carros enchem as pistas e vêm para a capital federal, os ônibus passam abarrotados de gente e sem qualquer prioridade na via.
Na ponte do Bragueto, desproporção entre carros e ônibus.
Ao conversar com pessoas que usam ônibus e passam pela região, constatei que alguns acham que as escavações em andamento têm por objetivo expandir o metrô até a região norte do DF. Em razão da dimensão das obras e da falta de informações no local, é compreensível o equívoco, a ilusão de achar que se trata de melhorias no transporte coletivo.
Será que um dia iremos reverter o modelo rodoviarista atrasado e seguir no rumo certo, da mobilidade moderna e saudável, em que se priorizam os modos de transporte coletivos e ativos e detrimento do modelo centrado no carro?
VÍDEOS:
– Pedestres Atletas no final da Asa Norte
– Caminhos de Rato, Ratos no Caminho
– Travessia difícil no Setor Hospitalar
– Cenas do final da Asa Norte – Ponte do Bragueto