Brasilia Para Pessoas

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Publicado por Brasília no dia 09 de dezembro de 2022

Texto e fotos: Uirá Lourenço

Passo com frequência pela área central, próximo da Rodoviária do Plano Piloto. O movimento de pedestres é intenso na plataforma superior e algo que sempre me chama atenção é a desproporção no uso do espaço.

A área é generosa, mas boa parte fica ocupada pelos carros estacionados. Para chegar à rodoviária muitas pessoas cortam caminho pelo estacionamento. Na região onde fica o principal terminal de transporte, com muitas linhas de ônibus e com opção do metrô, há necessidade de tantas vagas para motoristas?

Pedestres passam entre os carros estacionados ou na pista principal (calçada estreita).

Grandes áreas de estacionamento na plataforma superior (fotos do alto).

Fico imaginando se as pessoas pudessem sentar, brincar e se exercitar. Em vez de carros (nas pistas e nos estacionamentos), uma grande praça com banquinhos, árvores, equipamentos de ginástica e brinquedos para crianças. Por que não? Certamente o local ganharia vitalidade e, ao contrário do que se pode imaginar, o impacto negativo aos motoristas seria mínimo.

Em razão de obras, em 2019 a circulação de carros na plataforma superior ficou restrita a apenas um dos lados e os estacionamentos próximos ao Conjunto Nacional ficaram desativados. A vida seguiu normalmente e as pessoas podiam fazer o ‘caminho natural’ (mais curto) pelo estacionamento sem precisar desviar dos carros. Lembro com saudade desse período de tranquilidade e silêncio.

Pessoas seguiam caminho pelos estacionamentos interditados. Julho e agosto/2019.

Há bons exemplos pelo mundo de espaços revitalizados por meio da transformação de ruas e estacionamentos. A publicação do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) Vida e Morte das Rodovias Urbanas1 reúne alguns exemplos, incluindo a Embarcadero (São Francisco/EUA) – via expressa demolida e transformada em avenida arborizada com calçadão e praças ao longo da orla – e o caso emblemático de Seul (Coreia do Sul), onde uma via expressa elevada foi demolida para restauração do rio Cheonggyecheon.

A área central, especialmente a plataforma superior da rodoviária, tem grande potencial de se humanizar e se abrir para as pessoas. Basta parar por algum tempo e notar a enxurrada de pessoas que passam a pé. Pela rodoviária estima-se movimento diário de 700 mil pessoas.

Já existe projeto para transformar a região. Em trabalho de conclusão do curso de arquitetura em 2014, Gabriela Cascelli propôs intervenções com o objetivo de melhor utilizar os espaços da Plataforma Superior, com a retirada de 630 vagas de estacionamento e criação de praças e equipamentos de lazer.2 Seguindo a orientação de priorizar as pessoas, em vez dos carros, a autora propôs ainda ciclofaixas e redirecionamento do fluxo de automóveis, ‘libertando a área que antes se destinava ao trânsito e aos estacionamentos para os pedestres, ciclistas e transporte público’.  

Praça na Plataforma Superior: um dos desenhos que ilustram a proposta no trabalho de Gabriela Cascelli.

Seria lindo ver, no coração de Brasília, praças no lugar de estacionamentos. Mas, na capital automotiva por excelência, com obras de túneis e viadutos pra todo lado, a ideia acaba sendo um mero devaneio.

 ______________________

1 A publicação do ITDP está disponível em: https://itdpbrasil.org/vida-e-morte-das-rodovias-urbanas/

2 Com o título ‘A nova Plata[forma] da Rodô’, o trabalho foi apresentado no curso de arquitetura (UnB), disponível em: https://issuu.com/gabrielacascellifarinasso/docs/a_nova_plataforma

VÍDEOS

Os vídeos mostram a situação na Plataforma Superior da Rodoviária e a grande quantidade de pessoas no entorno da rodoviária, no início da Esplanada dos Ministérios:



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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