No dia 27 de junho, o caos se instalou. Dia de jogo do Brasil na Copa, muitos carros nas pistas. No trajeto de bicicleta, aproveitei para observar e clicar. No Eixo Monumental, o que mais chama atenção, além do excesso de carros (muitos ocupados apenas com o motorista), é a falta de prioridade ao transporte coletivo.
Cena comum, agravada em dia de jogo: excesso de carros e ônibus lotados.
O Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios têm seis pistas de cada lado, sem prioridade ao transporte coletivo. E não há outra opção além de ônibus (VLT e metrô). Também se observam baixo movimento de pessoas a pé e de bicicleta e má conservação de calçadas e ciclovias.
Nas proximidades do estádio, calçada totalmente destruída e ciclovia vazia.
Ao longo dos seguidos governos, repetem-se as promessas na mobilidade: expansão do metrô, construção de linhas de VLT e de Linhas Verdes. A realização da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016) prometia um legado em mobilidade urbana. O programa do atual governo está recheado de boas propostas: além do VLT e dos investimentos no metrô e em acessibilidade, foram prometidos trens regionais (para Luziânia e para Goiânia).
No programa Circula Brasília, lançado em 2016, a proposta de VLT foi retomada. O mapa divulgado mostra a rede de transporte integrado, com BRT, linhas de metrô (expandido até a Asa Norte) e linhas de VLT. No papel, uma imagem de cidade avançada; na prática, o destaque fica para os projetos milionários de túneis e viadutos, em particular o TTN, no final da Asa Norte (conjunto de 26 pontes, túneis e viadutos).
No mapa do programa Circula Brasília, uma rede invejável de transporte integrado. Fonte: GDF.
Com o aumento vertiginoso da frota automotiva e sem prioridade ao transporte coletivo, o cenário de caos deve se instalar de vez. Em notícia sobre o caos no dia do jogo da seleção brasileira, o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) afirmou que os congestionamentos foram causados pelo fato de “todo mundo sair no mesmo horário: meio-dia.”
No entanto, se boa parte das pessoas optasse pelo transporte coletivo, associado à mobilidade ativa, o resultado seria diferente. Afinal, com mais ônibus, metrô e bicicletas, e com menos carros nas pistas, o que veríamos seria um sistema de transporte mais eficiente e menos poluente. O modelo de transporte baseado no automóvel requer muito espaço nas pistas e nos estacionamentos.
Espaço ocupado na rua por diferentes meios de transporte: ônibus, carro e bicicleta.
Para o jogo seguinte do Brasil na Copa do Mundo (2 de julho, segunda-feira), para evitar novo caos nas pistas, o GDF decretou ponto facultativo aos servidores públicos e decidiu liberar as faixas de ônibus para os carros. Segundo a notícia divulgada pelo governo, “Para facilitar a mobilidade no dia do jogo, os veículos poderão trafegar livremente pelas faixas à direita da via, reservadas para os ônibus, da 0 hora às 23h59.”
Ou seja, durante os jogos, adotam-se medidas paliativas e de improviso (decretação de ponto facultativo e liberação das faixas de ônibus), em vez de medidas duradouras que revertam o quadro de imobilidade. Torço para que o Brasil avance na Copa e conquiste o hexacampeonato. Torço ainda mais para que os gestores públicos despertem para a relevância da mobilidade urbana e revertam o modelo de cidade. Em vez de cidade para carros, que possamos desfrutar de uma cidade planejada para pessoas.