Com esta declaração, o governador Rodrigo Rollemberg resumiu as ações voltadas à mobilidade. Ao fazer balanço de mil dias de governo, em artigo publicado no jornal Correio Braziliense (28/9/2017), o atual governador exalta a política rodoviarista vigente, que prioriza o transporte automotivo. A principal obra em andamento, com custo inicial de R$ 207 milhões, é o Trevo de Triagem Norte (TTN), também conhecido como Terrível Trevo Norte, que consiste num conjunto de pistas, túneis e viadutos que vem devastando grande área na busca incessante por fluidez automotiva.
Devastação causada pelas obras do TTN: túneis, pontes e viadutos no norte do DF
O artigo do governador destaca o TTN entre os “investimentos relevantes”. É nítida a contradição com o programa de governo, que dedica um capítulo à mobilidade:
“O modelo de mobilidade urbana centrado no alargamento de vias para escoar o crescente número de veículos movidos a combustíveis fósseis dá claros sinais de esgotamento e tem significativos impactos negativos sobre o clima e a qualidade do ar.”
“É obrigação do poder público oferecer, direta ou indiretamente, alternativas ao automóvel, como calçadas e ciclovias conectadas e de qualidade, transporte coletivo eficiente, com o uso integrado de ônibus, metrô e trens urbanos e metropolitanos, a fim de avançar na transição para a economia de baixo carbono também no setor de transportes.”
O texto com a frase que exalta o modelo centrado no transporte individual motorizado foi publicado na semana seguinte à celebração do Dia Mundial sem Carro (22/9), momento em que se discutem ações para melhorar a mobilidade e qualidade de vida na cidade. Na audiência pública realizada na Câmara Legislativa do Distrito Federal sobre mobilidade urbana, no dia 21/9, os palestrantes e o público foram enfáticos na necessidade de mudança do modelo rodoviarista para um modelo humanizado, com menor limite de velocidade nas vias e com prioridade ao transporte coletivo e aos modos ativos.
A lógica automotiva declarada no artigo do governador poderia ser pensada na ótica caminhante:
Nenhum outro governo fez tão pouco pelos pedestres.
Ao caminhar pela capital federal e tropeçar nas inúmeras crateras, a impressão é que, com tantos recursos gastos com túneis e viadutos, não sobrou nada para os pedestres. Mesmo a área central da capital “moderna” é inacessível.
Realidade no DF: calçadas com muitas crateras e invadidas por muitos carros.
Percebe-se que a necessária mudança de paradigma – do modelo rodoviarista insustentável baseado no automóvel para o modelo moderno centrado nas pessoas – requer não apenas infraestrutura, mas especialmente mudança de mentalidade dos gestores públicos e planejadores. As cidades modernas de verdade vêm investindo há décadas num modelo humanizado, menos dependente do carro e com mais praças e parques, em vez de túneis e viadutos.
SAIBA MAIS:
– Nota de Repúdio do Brasília para Pessoas:
NOTA DE REPÚDIO AO GDF CONTRA A POLÍTICA RODOVIARISTA CARA E ATRASADA
– Vídeo sobre a Imobilidade no norte do DF:
https://www.youtube.com/watch?v=rFDdaVe4bqM
Imobilidade e rodoviarismo no norte do DF
– Álbum com fotos da devastação e do rodoviarismo no norte do DF: