Texto e fotos: Uirá Lourenço
A cena é bela e inusitada: ciclovia da Esplanada bastante movimentada. Caminhadas, conversa e muitos selfies em família. Luzes e som de Natal atraem as pessoas. Um movimento incomum, especialmente à noite, quando a escuridão e o fim do expediente nos ministérios deixam a ciclovia vazia.
O belo cenário disfarça as mazelas da cidade. De bicicleta e a pé, ao passar pela W3, rodoviária do Plano e Esplanada, desilusão com a cidade abandonada. As luzes que atraem para a ciclovia ofuscam a realidade a poucos metros dali: trabalhadores no sufoco e na escuridão na volta para casa, com calçadas destruídas e ciclovia sem continuidade.
Crateras por toda a cidade: pedestres em situação vergonhosa.
As filas dos ônibus na rodoviária dão voltas e voltas, as escadas rolantes quebradas, a multidão sem um mísero banquinho na longa espera. A penumbra só não é total em razão das luzes do comércio que irradiam em direção às filas. Enquanto alguns trabalhadores esperam, outros correm da fiscalização implacável contra os vendedores ambulantes.
Filas, escuridão e inacessibilidade a poucos metros das árvores natalinas.
O Estado provê luz e enfeites natalinos para os selfies nas proximidades da Catedral, mas não garante iluminação digna e acessibilidade aos trabalhadores. A ausência estatal contrasta com o contínuo monitoramento dos ambulantes.
Luz e ciclovia: a versão atual do Pão e circo na capital federal.
VÍDEOS:
– Trajeto com cegos na área central de Brasília
– Inacessibilidade e queda de pedestre na Esplanada