Texto e Fotos: Uirá Lourenço
No campo da mobilidade urbana, não há o que celebrar no Dia Internacional da Mulher. Caminhei e cliquei no dia 8/3 e as cenas revelam uma cidade difícil. A mulher caminhante sofre na capital “moderna”. Além das muitas crateras e da ausência de calçadas, ainda se tem que desviar dos muitos obstáculos (lixo, carros e postes) no caminho.
Calçadas e canteiros invadidos por carros e rampas bloqueadas.
Mesmo a área central, “moderna”, é altamente hostil a quem passa a pé, especialmente em razão da farra motorizada, com carros espalhados por todos os cantos (calçadas, canteiros e outros locais proibidos).
É emblemática a inacessibilidade na Esplanada dos Ministérios, no entorno dos Poderes da República. Não bastasse a péssima qualidade das calçadas e ciclovias, há sempre carros no caminho, estacionados de forma irregular, bloqueando calçadas, rampas e ciclovias. Em vez de carros estacionados o dia inteiro, poderiam ser criados espaços compartilhados entre pedestres e ciclistas, o que garantiria caminho livre e seguro aos moradores e turistas.
Calçadas, quando existentes, são inadequadas ou estão bloqueadas. Ciclovia com várias rachaduras e sem continuidade.
Farra motorizada e péssima distribuição do espaço urbano: carros por todos os cantos em volta dos Poderes da República.
As crateras e os percalços no caminho têm sido denunciados todo ano, especialmente em abril, quando ocorre a campanha nacional Calçada #Cilada. Mais de 200 queixas foram registradas no ano passado. O Brasília para Pessoas encaminhou ao GDF as fotos e os detalhes das armadilhas registradas pelos cidadãos. Infelizmente, não houve providências e as crateras só aumentam.
No início da Asa Norte, próximo ao hospital regional (HRAN) e a vários centros clínicos, a dificuldade de caminhar é enorme. Então, só resta às pedestres andar na rua, entre os carros. Ou caminhar pelos canteiros enlameados.
No Setor Médico-Hospitalar (Asa Norte), faltam caminhos acessíveis às pedestres. E sobram carros nos canteiros.
Como se percebe nas caminhadas, todo o Plano Piloto é inacessível e repleto de crateras. Do início da Asa Norte até o final, assim como ao longo de toda a Asa Sul, depara-se com muitas calçadas destruídas e invadidas por carros. Outro problema frequente – e fácil de resolver – é a ausência de rampas.
Mais crateras e obstáculos: ao longo da Asa Norte o caminho é difícil.
Na volta para casa, pontos de ônibus precários e lotados. Longa espera nos pontos e ônibus abarrotados de gente.
Pontos de ônibus lotados na W3 Norte.
– Violência no trânsito contra mulheres (contra pedestres em geral)
Ao caminhar pela cidade, observa-se maior imprudência e intolerância. Motoristas avançam o sinal vermelho onde não há radares, ignoram a preferência na faixa e buzinam ao avistar um pedestre ou ciclista no caminho.
O vídeo-flagrante no início da W3 Sul mostra não só a agressividade dos motoristas em região com fluxo intenso de pedestres, mas também a omissão governamental. No final de 2016, o órgão de trânsito pintou a faixa de travessia, mas acabou apagando a faixa poucos dias depois.
Vídeo gravado em 7/3/2018 revela a hostilidade dos motoristas em local com grande movimento de pessoas a pé (clique para assistir ao vídeo).
Os dados recentes de mortes e atropelamentos comprovam a hostilidade nas ruas. Segundo reportagem do Jornal de Brasília, na semana em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher três mulheres foram atropeladas, duas morreram. Uma delas foi esmagada por carro em alta velocidade, que invadiu a calçada da Esplanada dos Ministérios.
Jornal de Brasília, 9/3/2018 (clique para ler a reportagem na íntegra).
Vale lembrar outro atropelamento ocorrido na Esplanada dos Ministérios, que matou uma mulher. Em outubro de 2017, um motociclista atropelou e matou Beatriz de Souza Santos, de 56 anos, próximo ao Congresso Nacional e ao Palácio do Planalto. Segundo a perícia realizada, o motociclista – que também faleceu – estava a 245 km/h!
– Visão moderna de cidade
Na visão de cidade humana e moderna, os limites de velocidade se reduzem e os espaços para caminhar se ampliam. As cidades modernas investem no transporte coletivo e restringem o uso do carro. Pistas e estacionamentos cedem espaço para praças e ciclovias.
Assim, as cidades se tornam mais seguras e convidativas para se caminhar e pedalar e se veem muitas mulheres e crianças nas ruas, a pé, de bicicleta ou outros meios saudáveis de transporte.
Em Brasília, ocorre o movimento contrário: calçadas e canteiros viram estacionamentos. O governo local amplia vias e constrói túneis e viadutos, e ainda oferece curso gratuito para as pessoas superarem o medo de dirigir.