Texto e fotos: Uirá Lourenço
Passar de bicicleta por alguns locais me faz lembrar de um velho brinquedo. O autorama tinha pistas em que carrinhos com controle remoto disputavam corrida.
Na via que margeia o autódromo os carros passam em alta velocidade. Não há calçadas em boa parte da via, não existe ciclovia. O jeito é se espremer ao lado dos motoristas velozes (alguns também são furiosos), ou se refugiar no canteiro gramado.
Via que margeia o autódromo: sem espaço para quem caminha e pedala.
Aos mais apressados dá vontade de alertar que o autódromo só funciona na parte de dentro, murada.
Um pouco adiante está o acesso ao bairro Noroeste, ‘nobre’ e supostamente moderno. Todo dia vejo pedestres e ciclistas passando no local em condições nada amigáveis. Os caminhos de rato (tecnicamente chamados de linhas de desejo) estão bem demarcados na grama. Uma pessoa com deficiência ou restrição na mobilidade não consegue alcançar a pé o bairro de alta renda.
Próximo ao bairro Noroeste, ausência total de infraestrutura para pedestres e ciclistas.
O governo federal anunciou há poucos dias a proposta de Carro Popular, para desespero de quem sonha com cidades humanizadas, mais seguras e saudáveis, com menos carros em circulação. O atraso governamental – em âmbito local e nacional – é bem evidente: Isenção/redução de impostos para o setor automotivo anunciado pelo presidente Lula e muitas obras grandiosas e caras (alargamentos de pistas e construção de viadutos) em andamento no governo Ibaneis.
Brasília tem a fama de ser habitada por moradores com anatomia ímpar: cabeça, tronco e quatro rodas. A verdade é que há uma quantidade razoável de pessoas que percorre a cidade sem carro. Mas o caminho tem muitos obstáculos e as autoridades ainda pensam a cidade na ótica do motorista, como se as ruas fossem pistas de corrida em que o carro deve passar sem limite de velocidade e sem outros usuários (especialmente pedestres e ciclistas) para atrapalhar a fluidez.
VÍDEO
Via exclusiva para motoristas na entrada do bairro Noroeste.