O terceiro texto da série aborda as transformações na Estrada Setor Policial Militar (ESPM), que passou por obras no atual governo. As imagens (fotos e street view) revelam a transformação.
Texto e fotos: Uirá Lourenço
Assim como a Estrada Parque Aeroporto (EPAR), a via que passa pelo Setor Policial também fica na parte sul de Brasília. Ela faz a ligação entre a Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG) e o trecho final do Eixão, passa por uma região pouco adensada onde estão sediados órgãos públicos, como Polícia Militar, Polícia Federal, Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Enap (Escola Nacional de Administração Pública).
Pode-se dizer que se tratava de uma autêntica Estrada Parque, com canteiros laterais e central bem arborizados. A espécie que mais se destacava pelo porte e pela floração rosa era a paineira. Felizmente, ainda sobraram algumas para contar história.
Em 2020 se iniciou a obra de ampliação da via e construção do corredor exclusivo para ônibus que compõem o Eixo Oeste, com previsão de interligar o Sol Nascente ao Terminal da Asa Sul. Segundo notícia do Governo do Distrito Federal (GDF), a obra consiste na construção de dois viadutos e pavimentação em concreto para circulação dos ônibus. O então Secretário de Obras, Luciano Carvalho, afirmou que ‘os novos viadutos irão desafogar o trânsito na região, minimizando os engarrafamentos e os transtornos enfrentados diariamente pelos motoristas que trafegam por ali, especialmente nos horários de pico’.
Imagens (street view) nas proximidades da Polícia Federal, janeiro/2019 (acima) e junho/2024 (abaixo).
Ao longo de toda a via centenas de árvores foram marcadas com ‘X’ para posterior supressão. As fotos mostram como era a situação antes. Além das árvores, se podiam ver aves que vivam e se abrigavam no canteiro, incluindo corujas, quero-queros e curicacas.
Canteiro lateral antes e durante as obras. Fotos de maio/2022 (acima) e março/2023 (abaixo).
Eis mais algumas imagens do street view ao longo da via:
Street view, próximo ao hospital Santa Lúcia. Fevereiro/2022 (acima) e junho/2024 (abaixo).
Street view, próximo à sede da Polícia Militar. novembro/2021 (acima) e junho/2023 (abaixo).
– Alguns detalhes
Todo o canteiro de um dos lados foi suprimido para construção do corredor do BRT (transporte rápido por ônibus), da calçada e ciclovia.
Passei por lá de bicicleta em setembro deste ano, após a pavimentação das pistas para pedestres e ciclistas. É muito bom passar na ciclovia com piso novo. No entanto, as árvores fazem muita falta, especialmente nos horários mais quentes (passei próximo de meio-dia). Preferia muito mais ter um caminho bonito e sombreado, em vez da aridez atual.
Novas pistas para BRT, pedestres e ciclistas, sem a sombra das árvores. Fotos: setembro/2024.
Quanto aos ônibus, quando passei em setembro o corredor exclusivo ainda não estava em funcionamento. O investimento no BRT é positivo, mas o custo ambiental é significativo (grande impermeabilização e retirada das árvores). Essa devastação ocorreu ou ocorre em outros locais do DF (por exemplo, Estrada Parque Aeroporto, onde passa o BRT Sul, e Estrada Parque Indústrias Gráficas, com obras em andamento).
Aproveito para prestar homenagem à bela e frondosa paineira que ficava no canteiro central, próximo à Polícia Federal e ao Hospital Santa Lúcia. Por coincidência, passei no dia em que estavam prestes a ‘limpar’ a área.
Fotos de maio/2022 e agosto/2023.
Vale lembrar que a via do Setor Policial era uma das poucas no Distrito Federal com faixa exclusiva.1 Ou seja, já havia prioridade ao transporte coletivo. Antes das obras eram três faixas de rolamento em cada sentido, sendo uma exclusiva para os ônibus. Com as obras, os ônibus terão o corredor exclusivo e três faixas ficarão reservadas aos carros. Na prática se ampliou o espaço para os motoristas.
Faixa exclusiva de ônibus que já existia na via. Foto de maio/2022.
As notícias recentes do governo (obras em andamento e inauguração de viaduto no Jardim Botânico) destacam os benefícios para quem está de carro: milhares de motoristas beneficiados. Um contrassenso em relação à mobilidade moderna e sustentável, que preconiza o desestímulo ao automóvel, aliado às melhorias nos modos coletivos e ativos (não motorizados) de transporte.
Notícias de novembro/2024 destacam os principais beneficiados com as obras.
Por fim, deixo algumas perguntas para reflexão: é possível um modelo de transporte em que se incentive o transporte coletivo e se mantenha – ou se aumente – a quantidade de árvores que tantos benefícios trazem para a cidade? Por que no Distrito Federal os projetos de BRT necessariamente implicam na ampliação do espaço para os carros?
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1 Em todo o DF, segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade, existem apenas 147 km de faixas e corredores exclusivos de ônibus, em seis vias (link com as informações).
VÍDEOS
Dois vídeos gravados na via que passa pelo Setor Policial, antes e depois das obras.