Texto e fotos: Uirá Lourenço
Ao caminhar por algumas quadras com boas calçadas, reformadas, vejo mais pessoas caminhando, cadeirantes e crianças de bicicleta. Há alguns bons exemplos: na Asa Norte e na Asa Sul, locais acolhedores com calçadas acessíveis e arborizadas.
Pode-se caminhar sem tropeços na 115 e na 116 da Asa Norte, na 107 e 108 da Asa Sul. Há uma placa na 115N que agradece a emenda parlamentar destinada à reforma das calçadas. Fico imaginando quanto custaria reformar todas as calçadas destruídas de Brasília, do Distrito Federal. Quanto do orçamento foi destinado para calçadas este ano?
Placa com agradecimento pela emenda parlamentar e calçada reformada na 109 Sul.
O impacto financeiro de reformar todas as calçadas seria equivalente ao de um único túnel ou viaduto? Lembrando que o custo inicial do Túnel de Taguatinga foi de R$ 275 milhões (sem contar eventuais aditivos no contrato) para beneficiar mais de 137 mil motoristas, segundo notícia do GDF.
Nesta semana em que se celebra o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro) e o Dia Nacional da Acessibilidade (5 de dezembro), alguns registros de boas calçadas, que ainda são um tanto raras. O caminhar pleno, sem obstáculos e interrupções, é um direito assegurado em lei. Temos os Estatutos da Pessoa com Deficiência (nacional e distrital), que mencionam a ‘eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu acesso’. O Estatuto das Cidades, que se refere à ‘acessibilidade na fruição dos espaços livres de uso público’. A Política Nacional de Mobilidade Urbana, que tem entre os objetivos ‘proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade’.
Daria para mencionar outro punhado de leis (federais e distritais) que favorecem os mais vulneráveis e o simples caminhar. Normas que viram letra morta nas ruas tão hostis ao ser desprovido de motor.
Em meio a tantas obras grandiosas de complexos viários (túneis e viadutos) que prometem mais fluidez aos motoristas e desestimulam ainda mais a caminhada, o desafio é ainda maior.
No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência passei pela nossa deteriorada e vergonhosa Rodoviária do Plano Piloto. Das 8 escadas rolantes entre as Plataforma Inferior e Superior sabe quantas funcionavam? Nenhuma! Um verdadeiro absurdo no terminal de transporte mais movimentado da capital federal ‘moderna’. Flagrei o esforço de um senhor que usava duas muletas e precisou se escorar para subir as escadas (vídeo ao final).
Escadas rolantes que nunca funcionam na rodoviária do Plano Piloto.
E ali perto da rodô, no Eixão em obras, o governo decidiu desativar os semáforos e complicar ainda mais a vida de quem caminha e precisa atravessar entre o Setor Comercial e o Setor Bancário Norte. Há inclusive um aviso expresso de que é proibida a travessia!
No início da Asa Norte, semáforos desativados e proibição de atravessar.
Penso que a realidade só vai mudar quando nossas autoridades caminharem pela cidade: deputados distritais e federais, senadores e ministros do Supremo. Adoraria ver o governador e seus secretários sacolejando nos ônibus no final do dia, se misturando ao povão, desviando dos obstáculos nas calçadas e correndo na travessia para chegarem vivos ao outro lado da via.
VÍDEOS
Flagrantes da semana, na rodoviária do Plano Piloto e no início da Asa Norte.