Brasilia Para Pessoas

18
setembro
Publicado por Brasília no dia 18 de setembro de 2024

Texto e fotos: Uirá Lourenço

Fiz um pedal exploratório no domingo (8/9). Aproveitei o dia com menos movimento de carros para ir mais longe e ver as obras em andamento pela cidade. Ao meio-dia, andar pela via do Setor Policial e pela EPIG não foi nada fácil, ainda mais com esse início de setembro quente e seco. 

Passei pelo Eixão liberado para as pessoas da Asa Norte ao final da Asa Sul. Faltam caminhos seguros para quem está sem carro: quem vem da região sul para acessar o Eixão do Lazer precisa dividir espaço com os motoristas em alta velocidade. Tem que ser atleta ou bem aventureiro para encarar! Não é à toa que muitos levam as bicicletas no carro.

Final da Asa Sul: ciclistas entre carros velozes e bicicletas transportadas no carro.

Saí do Eixão e segui para o Setor Policial. Fui pelo barro, margeando a lateral da pista. Notei a concretagem da pista onde deve passar o sistema de ônibus (BRT) até o Terminal da Asa Sul. Sentimento ambíguo. Por um lado, é bom ver um corredor exclusivo, que deve dar agilidade a quem está de ônibus. Por outro, vejo com tristeza o ambiente árido, a área verde perdida por conta das obras.

Na via que passa pelo Setor Policial (Estrada Setor Policial Militar – ESPM) o canteiro central foi eliminado ou reduzido drasticamente, muitas paineiras frondosas foram retiradas. Há um trecho com calçada e ciclovia na lateral. O piso é novo, em ótimo estado. Mas a falta de árvores (sombra) torna o percurso desagradável. Próximo da EPIG (Estrada Parque Indústrias Gráficas) o caminho dos pedestres e ciclistas termina. Espero que até a conclusão das obras as necessárias ligações no caminho sejam feitas.

Corredor do BRT na parte central, calçada e ciclovias na lateral (sem sombra das árvores).

Chama atenção o fato que a via era uma das poucas com faixa exclusiva de ônibus.1 Ou seja, já havia prioridade ao transporte coletivo. Ainda dá para ver vestígio da pintura no asfalto que indicava o espaço exclusivo na faixa da direita.

Fico pensando como poderia ter sido diferente o projeto ao longo da via: manter a faixa exclusiva, criar calçada/ciclovia na lateral e preservar os belos canteiros (na parte central e na lateral) com árvores de grande porte, corujas, quero-queros e pica-paus. Poderiam ter optado por redistribuir o espaço viário existente, em vez de concretar e ampliar o espaço para circulação motorizada.      

Canteiros (central e lateral) com árvores frondosas, que existiam antes das obras. Fotos de março/2023 (à esquerda) e maio/2022 (à direita).

Acompanhei outras obras pelo DF com grande impacto negativo na arborização e na impermeabilização do solo (na maioria das vezes eram projetos voltados à fluidez motorizada). Posso mencionar o ‘Terrível Trevo Norte’ (TTN), a Saída Norte (sem o prometido BRT), o trevo rodoviário entre o Sudoste e o Parque da Cidade e a ampliação da Estrada Parque Aeroporto (com uma ciclovia lateral que liga nada a lugar nenhum).

Quando as chuvas voltarem, junto com as enchentes, espero que as autoridades não culpem só as mudanças climáticas e se deem conta de como as áreas verdes são (ou eram) importantes para garantir um microclima agradável e também para contribuir com a infiltração e drenagem das águas pluviais.

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1 Segundo dados da Secretaria de Mobilidade, existem 147 km de faixas exclusivas e corredor de ônibus no Distrito Federal, incluindo o BRT Sul e a via do Setor Policial.

VÍDEOS

Dois vídeos de ‘pedais exploratórios’ para observar obras em andamento pela cidade, incluindo a via do Setor Policial e o início da Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG), próximo da Estrada Parque Taguatinga (EPTG).



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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