Texto e fotos: Uirá Lourenço
Fiz um pedal exploratório no domingo (8/9). Aproveitei o dia com menos movimento de carros para ir mais longe e ver as obras em andamento pela cidade. Ao meio-dia, andar pela via do Setor Policial e pela EPIG não foi nada fácil, ainda mais com esse início de setembro quente e seco.
Passei pelo Eixão liberado para as pessoas da Asa Norte ao final da Asa Sul. Faltam caminhos seguros para quem está sem carro: quem vem da região sul para acessar o Eixão do Lazer precisa dividir espaço com os motoristas em alta velocidade. Tem que ser atleta ou bem aventureiro para encarar! Não é à toa que muitos levam as bicicletas no carro.
Final da Asa Sul: ciclistas entre carros velozes e bicicletas transportadas no carro.
Saí do Eixão e segui para o Setor Policial. Fui pelo barro, margeando a lateral da pista. Notei a concretagem da pista onde deve passar o sistema de ônibus (BRT) até o Terminal da Asa Sul. Sentimento ambíguo. Por um lado, é bom ver um corredor exclusivo, que deve dar agilidade a quem está de ônibus. Por outro, vejo com tristeza o ambiente árido, a área verde perdida por conta das obras.
Na via que passa pelo Setor Policial (Estrada Setor Policial Militar – ESPM) o canteiro central foi eliminado ou reduzido drasticamente, muitas paineiras frondosas foram retiradas. Há um trecho com calçada e ciclovia na lateral. O piso é novo, em ótimo estado. Mas a falta de árvores (sombra) torna o percurso desagradável. Próximo da EPIG (Estrada Parque Indústrias Gráficas) o caminho dos pedestres e ciclistas termina. Espero que até a conclusão das obras as necessárias ligações no caminho sejam feitas.
Corredor do BRT na parte central, calçada e ciclovias na lateral (sem sombra das árvores).
Chama atenção o fato que a via era uma das poucas com faixa exclusiva de ônibus.1 Ou seja, já havia prioridade ao transporte coletivo. Ainda dá para ver vestígio da pintura no asfalto que indicava o espaço exclusivo na faixa da direita.
Fico pensando como poderia ter sido diferente o projeto ao longo da via: manter a faixa exclusiva, criar calçada/ciclovia na lateral e preservar os belos canteiros (na parte central e na lateral) com árvores de grande porte, corujas, quero-queros e pica-paus. Poderiam ter optado por redistribuir o espaço viário existente, em vez de concretar e ampliar o espaço para circulação motorizada.
Canteiros (central e lateral) com árvores frondosas, que existiam antes das obras. Fotos de março/2023 (à esquerda) e maio/2022 (à direita).
Acompanhei outras obras pelo DF com grande impacto negativo na arborização e na impermeabilização do solo (na maioria das vezes eram projetos voltados à fluidez motorizada). Posso mencionar o ‘Terrível Trevo Norte’ (TTN), a Saída Norte (sem o prometido BRT), o trevo rodoviário entre o Sudoste e o Parque da Cidade e a ampliação da Estrada Parque Aeroporto (com uma ciclovia lateral que liga nada a lugar nenhum).
Quando as chuvas voltarem, junto com as enchentes, espero que as autoridades não culpem só as mudanças climáticas e se deem conta de como as áreas verdes são (ou eram) importantes para garantir um microclima agradável e também para contribuir com a infiltração e drenagem das águas pluviais.
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1 Segundo dados da Secretaria de Mobilidade, existem 147 km de faixas exclusivas e corredor de ônibus no Distrito Federal, incluindo o BRT Sul e a via do Setor Policial.
VÍDEOS
Dois vídeos de ‘pedais exploratórios’ para observar obras em andamento pela cidade, incluindo a via do Setor Policial e o início da Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG), próximo da Estrada Parque Taguatinga (EPTG).