Brasilia Para Pessoas

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abril
Publicado por Brasília no dia 06 de abril de 2024

Uirá Lourenço

Esta semana teve aniversário da campanha de respeito à faixa de pedestre. É importante relembrar e reforçar essa iniciativa que começou em 1/4/1997, afinal até hoje Brasília tem esse diferencial em relação a outras grandes cidades do país: em geral, os motoristas param e aguardam a travessia de pedestres na faixa.

O respeito à faixa teve êxito graças ao empenho do governo, da imprensa e da sociedade. O envolvimento de pessoas como o coronel Azevedo (ao voltar de viagem à Espanha se convenceu de que seria possível fazer valer a lei que garantia a preferência do pedestre), de jornais e emissoras (em particular o Correio Braziliense e a Globo local) e a realização de passeata no Eixão compõem o enredo da campanha Paz no Trânsito. O documentário de Hércules Silva (2008) e a reportagem de Afonso Ventania, publicada recentemente no Jornal de Brasília, trazem detalhes.

Para celebrar o aniversário de 27 anos da campanha, o governo divulgou anúncios em jornais e outdoors. É uma pena que o foco do Departamento de Trânsito (Detran/DF) tenha sido o sinal de vida, o gesto de estender a mão antes da travessia. Parar na faixa e dar preferência a pedestres e ciclistas atravessarem é uma obrigação baseada no Código de Trânsito (artigos 38, parágrafo único, 44 e 70), sem necessidade de acenar e pedir passagem.

Anúncios do GDF. Abril/2024.

Ao andar pela cidade noto que alguns motoristas e motociclistas ignoram a faixa de travessia, muitas vezes por estarem em alta velocidade ou por estarem distraídos ao celular. Até acho razoável acenar para os motoristas. Faço o sinal de vida quando há motoristas distraídos e em locais mal iluminados ou com sinalização ruim. No entanto, penso que o governo deveria focar seus anúncios no (mau) comportamento dos motoristas. Ao destacar o sinal de vida, acaba-se transferindo a responsabilidade pela segurança aos mais vulneráveis, pedestres e ciclistas.

Por que não alertar para o excesso de velocidade e a distração causada pelo uso de celular ao volante? Certamente os atropelamentos de pedestres e ciclistas são causados, em grande parte, por condutas inadequadas do motorista (imprudência e falta de atenção) e não pela falta do sinal de vida.

Aliás, esta semana de aniversário da campanha Paz no Trânsito foi, lamentavelmente, sangrenta nas pistas do Distrito Federal. No dia 4 um senhor de 71 anos foi atropelado por dois carros ao atravessar rua em Vicente Pires. Segundo a notícia, a vítima foi arrastada pelo segundo carro e ficou em estado grave. No dia 5, mais dois atropelamentos. Um ciclista foi atropelado e morto na BR-040 (a notícia não traz nomes nem detalhes do ocorrido), pedestres foram atropelados na via de acesso à ponte JK (também sem detalhes na notícia). Vale lembrar que faltam faixas de travessia e o limite de velocidade é bem elevado (80 km/h) nessa via que leva à ponte. Todo dia se veem pessoas atravessarem entre os carros velozes. E mais um triste caso foi noticiado hoje: cinco ciclistas foram atropelados ontem à noite no SIA (Setor de Indústria e Abastecimento); o motorista estava alcoolizado e em alta velocidade.

Creio estar na hora de irmos além do respeito à faixa. Além de celebrar a conquista, inovar e reforçar a segurança no trânsito para evitar novas tragédias. Nos trajetos diários percebo que, onde não há faixa nem semáforo, pedestres e ciclistas são ignorados sem cerimônia e penam para atravessar. Quem sabe um dia teremos um grande movimento em favor do Respeito na Faixa e fora da Faixa, uma autêntica campanha de Respeito à Vida, em que os motoristas reduzirão a velocidade e darão passagem a pedestres e ciclistas voluntariamente, sem necessidade de faixa pintada ou braço estendido.

VÍDEOS

Alguns vídeos sobre travessias em Brasília.



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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