Brasilia Para Pessoas

16
agosto
Publicado por Brasília no dia 16 de agosto de 2023

Texto: Maria Lúcia Veloso e Uirá Lourenço | Fotos: Uirá Lourenço

Brasília é uma cidade planejada que incorporou as principais ideias da arquitetura moderna e foi criada com uma concepção funcionalista, ou seja, de que deveria ser organizada em zonas, de acordo com cada um dos usos que as pessoas fariam dela: habitar, circular, trabalhar e recrear. O privilégio ao automóvel, com vias largas e expressas, se acentuou ao longo dos anos.

Nas décadas seguintes a cidade se tornaria o principal símbolo da arquitetura modernista no mundo e a única cidade construída no século XX a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1987. O título causa orgulho e ao mesmo tempo preocupação em manter as condições básicas exigidas pelo tombamento. Sua principal característica é a monumentalidade, determinada por suas quatro escalas (monumental, residencial, bucólica e gregária) e por sua arquitetura inovadora.

Destaca-se que a escala residencial foi concebida com base no conceito de Unidade de Vizinhança, formada por quatro quadras, onde os serviços essenciais estão próximos das residências, como farmácias, bancos, lojas diversas, cafeterias, restaurantes, supermercados e equipamentos públicos.

Quadra residencial em Brasília.

O conceito de Unidade de Vizinhança se aproxima do conceito da Cidade de 15 Minutos, destacado na Semana do Caminhar1 realizada em agosto de 2023, onde moradia, trabalho, lazer, comércio e os serviços essenciais podem ser acessados a 15 minutos de distância, sem a dependência de longos deslocamentos por veículos automotores, podendo ser a pé ou de bicicleta.

Assim, foi escolhida a unidade de vizinhança formada pelas Superquadras 115/116 Sul e 315/316 Sul para realizar o Safari Urbano no dia 9 de agosto. A partir de rotas pré-definidas foram avaliados os seus espaços urbanos, em especial calçadas, acessibilidade, conforto ambiental, mobiliário, percepção de segurança e aspectos físicos, além de mostrar como estão os acessos das quadras residenciais ao comércio local.

O Safari teve a participação de técnicos de órgãos do governo (Secretarias de Desenvolvimento Urbano e Habitação Seduh e deTransporte e Mobilidade – Semob), acadêmicos da área de urbanismo, servidores do Poder Legislativo, ativistas da mobilidade ativa e moradores da região. A partir das observações feitas serão propostas ações para elaboração de projeto e provável fonte de orçamento para execução das melhorias necessárias.

Participantes do Safari Urbano.

Dificuldade de acesso na quadra comercial da 115 Sul.

O resgate e fortalecimento do conceito de unidade de vizinhança será possível mediante a realização das intervenções propostas, que permitirão aumentar o número de pedestres e ciclistas circulando pelas quadras, ocupando cada vez mais os espaços públicos. Isso pode ser facilitado por uma das principais características e atrativos das quadras que é a existência de terreno plano e arborizado. 

A escolha dessa Unidade de Vizinhança também vai ao encontro dos resultados da pesquisa sobre Travessias no Eixão². Nas estações do metrô que são localizadas apenas na Asa Sul, a estação da 114/115 Sul responde pelo maior fluxo de pessoas em comparação com as demais estações, ou seja, por cerca de 28,4% das pessoas que se utilizam destas travessias. Já a passagem subterrânea da 115 sul responde por cerca de 4,9% do número de usuários nas demais travessias subterrâneas das Asas Sul e Norte. É importante destacar que as quadras 115/315 Sul são o corredor do fluxo de pedestres vindos da estação do metrô e da passagem subterrânea.

Com as intervenções e melhorias sugeridas no Safari poderemos criar ilhas de mobilidade ativa, em especial no Plano Piloto, resgatando o prazer e a antiga prática de caminhar pelas quadras. É possível replicar futuramente essa ideia para as demais unidades de vizinhança, formando outros quadriláteros ativos sustentáveis.

Seguimos juntos na busca de uma cidade acessível, com mais qualidade de vida e com incentivos ao uso de alternativas ao carro no dia a dia.

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1 A Semana do Caminhar é promovida anualmente para celebrar o Dia Mundial do Pedestre (8 de agosto). O Instituto de Caminhabilidade, de São Paulo, se articula com entidades locais para promover ações. Este ano as atividades na capital federal tiveram apoio da Andar a Pé, Associação de Moradores das 700 Sul (Amo700Sul), Brasília para Pessoas, Ciclovia Ativa, Rede Urbanidade e Rodas da Paz.

2 Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF). Travessias do Eixão – Relatório técnico – Brasília-DF, junho de 2023.

VÍDEOS

Dois vídeos produzidos para a Semana do Caminhar 2023. O primeiro mostra o percurso na Unidade de Vizinhança do final da Asa Sul. O segundo mostra o percurso para chegar ao Ministério Público (MPDFT), onde se debateu acessibilidade no Dia Mundial do Pedestre.



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Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
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