Dois anos após a implantação do sistema de bicicletas compartilhadas Bike BH na capital mineira, o perfil dos usuários aponta para um uso cada vez maior das magrelas como meio de transporte no dia a dia, principalmente nas estações localizadas na região Centro-Sul, onde estão implantadas em maior número.
Levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) mostra o crescimento de viagens durante os dias de semana, com percursos entre duas estações e com horários de pico no início da manhã e no fim da tarde. Segundo especialistas, os dados revelam que a população tem recorrido à bicicleta como alternativa ao transporte público convencional.
O estudo analisou dados em 28 dias dos meses de abril a maio deste ano, nas 40 estações do Bike BH existentes na cidade. Na região Centro-Sul, onde estão 34 terminais, o percentual das viagens durante os dias da semana subiu de 76%, em 2015, para 83%, neste ano. As viagens em que os usuários retiravam e entregavam a bicicleta na mesma estação caíram de 29% para 20% no mesmo período. No sentido contrário, os deslocamentos que apontam uma distância percorrida de até 2 km cresceram, passando de 52% do total para 65%.
Demanda
Segundo o pesquisador do Cebrap Victor Calil o estudo também mostra que, na região Centro-Sul, já existe um movimento de pico no início da manhã e no fim da tarde que repete o que ocorre nos meios de locomoção tradicionais. Ele explica que esse movimento é semelhante ao que ocorre em grandes cidades do mundo que adotam a bicicleta como meio de transporte, embora em BH o volume de usuários seja menor. Calil destaca que fazer esse volume crescer depende mais de uma mudança de comportamento do motorista belo-horizontino do que de uma expansão do sistema de bicicletas atual.
“O grande desafio está em melhorar a trafegabilidade para que o uso da bicicleta seja atrativo. Não basta criar mais estações. Fazer essa melhoria passa por tornar o tráfego menos agressivo e melhorar as conexões das ciclovias e a criação de ciclorrotas”, detalhou. “Eu já pedalei em várias cidades do Brasil, e o motorista de Belo Horizonte é o mais agressivo com o ciclista. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, os motoristas já estão começando a ter um respeito maior”, disse.
O conselheiro da Associação Transporte Ativo Rodrigo Vitorio explica que o sistema também tem sua fatia de responsabilidade para aumentar o volume de usuários. Ele destaca que é preciso ter uma confiabilidade de que se pode contar com aquela bicicleta.
“É preciso que tenha cada vez mais estações próximas e concentradas numa região. Também é fundamental que sempre tenha bicicletas. É preciso frisar que se trata de um transporte público. Chegar a uma estação e não ter bicicleta é o mesmo que chegar ao ponto de ônibus e ficar sabendo que ele não vai passar”, destacou.
Já as estações da Pampulha têm características completamente diferentes das da região Centro-Sul. Lá os ciclistas buscam a bicicleta por lazer. Na maioria dos deslocamentos nessa parte da cidade, as bicicletas são devolvidas no mesmo local em que são retiradas.
Sem resposta
Questionada sobre o sistema de bicicletas compartilhadas, a Empresa de Transportes e Trânsito (BHTrans) informou que a única fonte que poderia falar sobre o assunto estava viajando.
Incentivo público
Para Rodrigo Vitorio, que também é consultor no tema bicicletas públicas, as prefeituras têm que rever o modelo adotado para a implantação de bicicletas compartilhadas, já que hoje o poder público enxerga as iniciativas mais como licitações para uso do espaço público como publicidade do que como política de transporte, critica.
“Para as prefeituras, as bicicletas são outdoors ambulantes que rendem dinheiro com cobrança de outorga. Mas essa é uma política de transporte público que deve ter incentivos maiores”, afirmou.
Bike BH tem 40 estações na capital mineira. Foto: Guilherme Tampieri
Ciclistas buscam novos trajetos
A mudança do perfil de uso das bicicletas compartilháveis em Belo Horizonte também é percebida pelo crescimento de rotas que, até o ano passado, tinham um movimento quase irrelevante. Em 2015, a rota Praça da Assembleia/Sesc Palladium era apenas o 97º trajeto mais realizado. Em 2016, já é o sexto, atrás somente das viagens feitas nas estações da Pampulha, que têm um movimento maior, mas com uso mais para lazer.
Outro trajeto que apresentou aumento significativo foi entre as estações Bernardo Monteiro e Santa Efigênia, que passou do 36º roteiro mais realizado para o sétimo. Nesse caso, há uma relação direta com o metrô. A estação do Bike BH Santa Efigênia fica próxima à passarela que dá acesso ao terminal do metrô de mesmo nome.
“Há uma característica muito forte em BH da intermodalidade do sistema com as estações de metrô. O passageiro do metrô amplia sua área de acesso ao transporte público quando utiliza o sistema de bicicletas compartilhadas”, analisa o pesquisador do Cebrap.
A superintendente de Relações Institucionais e Governamentais do Itaú, Luciana Nicola, explica que, neste momento, os dados de Belo Horizonte estão sendo analisados para definir a estratégia na cidade. “Estamos conversando com a BHTrans, analisando a situação para definir possíveis novas ações”, afirmou.
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