Um estudo inédito mediu a proximidade entre os passageiros e o transporte de média e alta capacidade na capital paulista e concluiu: somente 25% da população de São Paulo tem acesso a pé a uma estação de transporte público de qualidade no raio de um quilômetro de casa.
Na pesquisa feita pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis é utilizado o índice PNT – da sigla em inglês People Near Transport –, que considera o número de pessoas que vivem em um raio de até 1 km de estações de metrô, trem, BRT e VLT, dividido pelo total da população do município.
No cálculo do PNT foram desconsiderados os corredores de ônibus, por não serem exclusivos do transporte público coletivo (aceitam táxi), e o monotrilho da Linha 15-Prata, já que o horário de funcionamento e a extensão estão aquém dos limites considerados na análise. “É necessário que corredores sejam exclusivos ao transporte público coletivo e existam melhorias que possam ser implementadas, como pagamento pré-embarque e embarque em nível”, explica a socióloga Clarisse Linke, diretora do ITDP Brasil.
Rede insuficiente
São Paulo tem um PNT muito baixo se comparada a outras metrópoles mundiais, a exemplo de Rio de Janeiro (47%), Cidade do México (48%), Pequim (60%), Nova Iorque (77%) e Paris (100%).
“Uma das conclusões elementares de quem se debruça sobre os números da capital paulista é que ela precisa urgentemente expandir e qualificar sua rede de transporte, ampliando a integração física, tarifária, operacional e de informação entre os diferentes modos públicos e privados”, explica Luis Antonio Lindau, diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis e Phd em transportes pela universidade inglesa de Southampton.
De 25% em 2015, São Paulo poderia saltar para um patamar de mais de 70% em 2025. Isso quer dizer que quase dois terços de sua população estaria a uma distância acessível a pé de uma estação de transporte público. Tal cenário foi projetado no estudo do ITDP e do WRI Cidades Sustentáveis a partir das metas previstas no Plano Diretor Estratégico e no Programa de Corredores Metropolitanos (EMTU).
“A rede de transporte público de qualidade é insuficiente para atender à demanda. Os protestos de junho de 2013 mostraram o quanto mobilidade urbana é uma questão urgente. A falta de acesso ao transporte dificulta o desenvolvimento econômico e social, além de contribuir para aumentar a histórica desigualdade social, tão presente nas cidades brasileiras”, completa Clarisse.
Soluções e qualidade de vida
As organizações que produziram o estudo apontam o que boa parte dos paulistanos já sabe e deseja. Pesquisa de Mobilidade Urbana realizada em 2015 pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope, revelou que 83% dos moradores da cidade estariam dispostos a trocar o automóvel por um transporte público de qualidade.
Ao analisar o acesso ao transporte para diferentes faixas de renda, os especialistas observaram que quem mora mais perto do transporte público de qualidade é justamente quem ganha mais. Em contrapartida, a expansão e a requalificação de uma rede integrada de transportes traria maior benefício a quem mais precisa: o PNT passaria de 18% para 61% para os paulistanos com renda de até meio salário mínimo, isto é, mais que triplicaria. Portanto, focar nessa área significa reduzir desigualdades.
A adoção da bicicleta também foi analisada. Ela pode facilitar ainda mais o acesso ao transporte público para viagens mais longas, ao se criar uma cadeia de deslocamentos e combinando as bikes com opções de viagem intermodal. Com a ampliação da rede em São Paulo até 2025, 97% da população estaria próxima a uma estação de transporte público de qualidade, que pode ser facilmente percorrida de bicicleta (3 km nos parâmetros do PNT).
Veja mais detalhes do estudo do PNT de São Paulo.
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