Como os londrinos se locomovem

Ex-moradora de Londres, Paula Tanscheit mostra que a capital cicula em uma rede integrada de transportes: metrô, ônibus, bicletas, carros e também a pé

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Fonte: The City Fix Brasil  |  Autor: Paula Tanscheit*  |  Postado em: 29 de agosto de 2016

Metrô de Londres, The Tube para o londrinos

Metrô de Londres, The Tube para o londrinos

créditos: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil

 

Não seria delírio afirmar que Londres se locomove a uma média de 30 km/h. A ampla maioria dos londrinos utiliza metrô ou trem para suas viagens diárias, meio de transporte que circula a uma velocidade média de 33 km/h. E isso não é um problema. O sistema de transporte da capital inglesa é indiscutivelmente eficiente e referência mundial. Porém, são as regiões onde predominam o uso da bicicleta ou o caminhar que indicam as falhas do famoso London Underground.

 

Há mais de 150 anos, Londres inaugurava o primeiro metrô do mundo. Hoje, o sistema, apelidado de “Tube” chega a alcançar um status de atração turística com seus 402 km de extensão e 270 estações espalhadas em onze linhas diferentes.

 

Ao usar dados do censo nacional de 2011, o Consumer Data Research Centre produziu um mapa interativo que mostra como são os hábitos de trânsito dos moradores de Londres. Ao observá-lo, Londres se transforma em um mar laranja, cor que representa áreas em que as pessoas utilizam o metrô e os trens. Atualmente, o Tube atende 4,8 milhões de viagens por dia.

 

Mapa de como Londres se locomove . (Clique para acessar o mapa interativo)
 
 
No entanto, também é possível observar grandes áreas em verde e lilás, que representam mobilidade a pé e uso de ônibus, respectivamente, e uma predominância do azul, que simboliza carros ou vans, nas adjacências da metrópole. Como esperado, o uso do ônibus é mais comum nas zonas em que o metrô não alcança principalmente em locais no sul e leste de Londres como Peckham, Stoke Newington, Camberwell e Hackney.
 
De acordo o pesquisador responsável pelo estudo, Oliver O’Brien, ao remover os dados sobre o uso do carro no Reino Unido, é possível perceber algumas conclusões sobre a mobilidade do país. Em Londres, segundo ele:
  • Áreas em verde (a pé) coincidem quase que perfeitamente com as zonas em que são aplicadas taxas de congestionamento;
     
  • Três das quatro maiores áreas em lilás (predominância do uso do ônibus) – Burgess Park, Hackney, Lea Valley e a enorme área ao redor do Aeroporto de Heathrow – são mal atendida pelo sistema de metrô e trem. A quarta, Lea Valley, é a mais interessante delas. O tipo de emprego mais popular da área é a limpeza, ou seja, os limpadores ou faxineiros, que normalmente trabalham no turno da noite ou madrugada, quando o ônibus é a único opção de transporte público. Ou seja, apesar de ter acesso a duas linhas férreas, os moradores utilizam predominantemente os ônibus.

A porção verde do mapa, em que a caminhada é a principal prática, está localizada na região chamada de Cidade de Londres, o núcleo da metrópole, onde funciona o distrito financeiro. Lá, mais de 7 mil pessoas moram em ruas dominadas por escritórios e, portanto, não têm necessidade de veículos para ir ao trabalho.


Preferência pelo metrô

O mapa evidencia a popularidade e a preferência dos londrinos pelo uso do metrô. Ainda que 90% dos moradores vivam a menos de 400 metros de um ponto de ônibus, optar pelos famosos ônibus vermelhos de dois andares parece ser a segunda opção. Com o uso já consolidado do Tube, Londres procura agora incentivar o hábito do transporte ativo na população.

 

(Foto: Tejvan Pettinger/Flickr-CC)
Mobilidade Ativa: ciclistas em Londres . Foto: Tejvan Pettinger/Flickr-CC

Ainda que em pequena proporção e bem localizado, o uso da bicicleta em Londres vem crescendo. Na Zona 1, a mais central da cidade, durante a hora de pico da manhã, 32% das viagens são realizadas por bicicleta. Em algumas ruas principais, mais de 70% dos veículos são bicicletas, segundo o programa Human Streets. No ano de 2000, a proporção era de 11 carros para cada 1 bicicleta. Em 2014, foram dois carros para cada bicicleta. Segundo o TfL, se a tendência continuar, o número de pessoas se dirigindo ao centro de Londres de bicicleta irá superar o número de carros até 2018.

 

A prefeitura de Londres também investe em campanhas pela caminhabilidade. Algumas estações do metrô da cidade dão a falsa impressão de estarem separadas por grandes distâncias, mas nem sempre isso condiz com a realidade. O sistema Legible London instala mapas em totens próximos das estações e em pontos de ônibus com indicações das ruas próximas e tempo de caminhada dentro de um raio de 5 minutos a 15 minutos. Até 2020, a cidade quer ter instalado 3 mil desses informativos.

 

Sistema de busca "Legible London", da prefeitura londrina: informações para quem visita a capital a pé . Foto: Divulgação


Um outro Tube

O arquiteto dinamarquês Nille Juul-Sorensen, Diretor de Arquitetura da multinacional Arup, quer transformar estações de metrô em ambientes mais saudáveis. “Londrinos merecem mais”, diz ele. A empresa trabalha atualmente em um projeto na estação de Canary Wharf que prevê a instalação de um shopping e um parque público no terraço. Todos os projetos são pensados para oferecer melhores experiências aos usuários, acabando com possíveis perturbações. “Eu, na verdade, odeio transporte público quando ele não é bom o suficiente. Então quero mudar isso”, afirma.

 

Algumas das ideias do arquiteto para as estações de metrô londrinas sugerem: tentar aproveitar a luz natural da rua mesmo em estações mais profundas; elementos de design mais intuitivos e coloridos nas estações que ajudam os usuários a chegarem às plataformas; acabar com catracas com o desenvolvimento de um sistema automático de cobrança que debita os passageiros via smartphone; usar materiais mais fáceis de limpar nas estações; introduzir galerias de arte, lojas, bibliotecas ou até piscinas nas estações.

*Paula Tanscheit é jornalista do WRI Brasil Cidades Sustentáveis. Artigo publicado originalmente no site The City Fix Brasil Edição: Marcos de Sousa / Mobilize Brasil 


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